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A-24

Sobre os jovens chineses em Portugal

por A-24, em 31.05.10
Do Império do Meio para o meio de Lisboa
Por Francisca Gorjão Henriques

Das janelas soltam-se músicas africanas. Vinte metros à frente, a banda filarmónica começa a tocar e Nossa Senhora da Saúde põe-se a caminho, com os fiéis a segui-la. As prostitutas continuam a fazer o seu negócio, ramo de rosmaninho numa mão, porque hoje é dia de procissão, chapéu-de-chuva na outra, que o tempo não está de fiar. E da porta número 12 sai uma voz improvável, pousada, quase solene, a espalhar a palavra de Cristo em mandarim. O pecado e a salvação andam juntos na Rua dos Anjos, neste domingo à tarde. E enquanto isso, distraidamente, a cidade vai absorvendo um mundo que começa a deixar de lhe ser estranho.
A pequena Ângela está a ficar cansada da missa e por isso Fei Feiren sai por um bocadinho, levando ao colo a filha de 14 meses. Dois elásticos cor-de-rosa tentam prender o seu cabelo liso e preto, que se espeta todo em direcção ao céu. A chucha cai uma vez, e outra e tantas quantas as que ela quiser para obrigar a mãe e a avó a agacharem-se no chão. O objectivo é interromper a história que Fei Feiren tenta contar. Um relato — num português difícil de debitar, primeiro, e com tradução depois — que pode ser igual ao de muitas outras chinesas de 21 anos como ela. Partiu de Zhengjiang, no Leste da China, em 2004, porque a família estava toda em Portugal. Trabalha numa loja de revenda, roupas, bugigangas, objectos mais ou menos úteis. Tudo barato. A esta hora, já Nossa Senhora deu a volta à esquina e desapareceu; uma das prostitutas também. E Fei Feiren está quase a ter de entrar novamente, para comungar. “Há oito anos comecei a ir à igreja. Na China há cada vez mais pastores a introduzir a crença. É muito saudável, não prejudica ninguém e é bom nos dias de hoje... Acredita-se na eternidade.” A crença serve também para traçar alguns limites: “A nossa igreja não deixa fazer amor antes do casamento, Jesus diz que não pode ser e nós não fazemos. Jesus é bom.” Isso não se aplica agora a ela, que casou e já deu à luz Ângela e espera ainda dar-lhe irmãos. E esta será uma das razões por que não deseja regressar ao seu país: “Não se pode ter mais que um fi lho.” Há outras: “Existe trabalho, mas ganha-se mal. Em Portugal, se somos pobres, não faz mal, mas na China as pessoas desprezam-nos. Fui lá nas férias e só queria voltar!” Voltar para Lisboa, onde há “bom tempo e simpatia”. Lá dentro, terminada a celebração, um grupo de sete jovens entre os 13 e os 26 anos (nenhum nascido em Portugal, para onde quase todos vieram há seis anos) dirá quase em uníssono coisas como: “Os portugueses são mais abertos, dão beijos na rua”; “quando têm dinheiro vão logo gastar, sabem viver a vida”; “a China, só para turismo”; “amigos portugueses só os colegas da escola” ou “só os do trabalho”. Cheira a lulas guisadas. A enumeração das diferenças continua. “Na China há mais moda, é mais fashion”; “os prédios são mais altos”; “as cidades são maiores”. História, política, Tiananmen são temas que não se desenvolvem nesta conversa. Nem em muitas que virão. Do massacre na Praça de Pequim em 1989, de jovens como eles, só ouviram falar já em Portugal. E ninguém se lembra exactamente da explicação. Há movimentos atrás deste círculo que se formou entre risos para falar com uma jornalista. E, de repente, a igreja transforma-se numa sala de jantar. E os entrevistados viram entrevistadores: “É cristã? Como é que os portugueses vêem os chineses?” Polvo (afi nal não eram lulas) cortado em pedacinhos, pepino cozido, porco com legumes e cogumelos, dispostos em várias travessas. “Quer jantar?” Das gravatas ao consultório Desde o início do século XX que há uma presença chinesa em Portugal, diz Pedro Góis, investigador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. “Dedicavam-se à venda ambulante, muitos eram vendedores de gravatas e andavam com elas penduradas ao pescoço por todo o país.” Vinham sobretudo de Macau e do Sul da China. Quem quer que investigue os chineses em Portugal dirá a mesma coisa: não há uma comunidade, mas várias, espalhadas sobretudo por Lisboa e Porto. Num estudo realizado juntamente com os investigadores José Carlos Marques e Catarina Reis de Oliveira, Góis escreve que entre 1975 e o início dos anos de 1980, muitos chineses originários de Cantão, Timor, Angola e Moçambique vieram para Portugal, depois da independência das colónias. A maior parte deles adquiriu a nacionalidade portuguesa e por isso desapareceu das estatísticas. A década seguinte assistiu a um novo movimento migratório. Desta vez, de chineses vindos directamente da China, em particular das províncias de Zhejiang (vizinha de Xangai), Guangdong (Cantão), Guizhou (Centro) e Heilongjiang (Norte). Um último fl uxo veio de Macau, depois da transferência da administracapa ção para Pequim, no fi nal de 1999. Segundo os Serviços de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), o número de imigrantes chineses residentes em Portugal não parou de aumentar nas últimas décadas (de 0,9 por cento do total de estrangeiros em 1986, passou para 1,7 por cento em 2001). Os dados do SEF de 2007 (os últimos disponíveis) apontam para 10.448 pessoas. Y Ping Chow, da Liga dos Chineses em Portugal, fala em 20 mil porque inclui os que “estão naturalizados portugueses, mas que continuam a ser culturalmente chineses”. São já de segunda ou terceira geração, e a China tem um nome para eles: chineses ultramarinos. As gravatas foram sendo trocadas por restaurantes (existem 500 em Portugal) e lojas (cinco mil). Mas basta andar na rua para perceber que, como sempre, não se pode colocar tudo no mesmo saco. Entre os jovens chineses que vivem em Portugal, as diferenças podem ser abissais. Como Fei Ferian, há os que vieram depois de ter feito os estudos na China — e que vieram antes que a idade os impedisse de legalmente se juntarem à família. Iniciam aqui a vida profi ssional activa. “Tendem a juntar-se a familiares directos até conseguirem fundos para abrir o seu próprio negócio, o que pode levar uns dois ou três anos”, explica Góis. A língua é uma barreira difícil de transpor e não chegam a “aportuguesar-se”. O objectivo é muitas vezes o regresso. “Há frequentemente o mito do retorno.” Há também os que nasceram cá ou vieram pequenos — e entre estes é preciso distinguir os que decidiram completar os estudos universitários dos que começaram a trabalhar mais cedo. Quem o explica é novamente Y Ping Chow. “Os que conseguem fazer estudos superiores são como os portugueses: vão ter os seus escritórios de advocacia, contabilidade, [consultórios de] medicina”, diz. “Não procuram tanto o dinheiro, mas viver a vida.” Um turista em PequimDing procura mais do que isso. É uma evidência, quando toca um Nocturno de Chopin no seu Yamaha, um dos raros móveis da sala de estar deste apartamento, em Telheiras (Lisboa), onde vive com os pais e uma irmã — não fossem uns cavalinhos de jade junto à lareira e ninguém saberia apontar a nacionalidade dos donos da casa. Aos 22 anos, Ding está no 4.º ano de Medicina, acabou o oitavo ano de piano no Conservatório com 19 valores, faz voluntariado dando explicações para crianças do bairro Padre Cruz, este Verão vai em missão para África. “Gosto de experimentar para depois decidir”, explica. Talvez não seja só isso: “Os meus pais sempre exigiram muito de mim, e por isso é que se calhar estou onde estou.” Não sabe dizer exactamente o que fez a mãe, médica, e o pai, tradutor de português, deixarem Pequim. 

Ding tem mais de um 1,80m e estamos já a imaginá-lo de bata branca, por cima da camisa azul que traz vestida. Nunca foi vítima de discriminações, por isso não prevê que as suas feições orientais afastem os doentes. Seria um equívoco reduzi-lo à sua aparência física. “Em termos de ideologia, de maneira de pensar, sou totalmente ocidental.” Veio para Portugal com dois anos e meio. E há outros dois voltou à terra onde nasceu. “Senti-me como um turista.” Todos os seus amigos são portugueses; em casa come-se um “chiportuguês” de garfo e faca; não vê filmes made in China, nem sintoniza a CCTV (o canal de televisão chinês). Mandarim, só fala com os pais e não sabe ler nem escrever bem — um dos seus arrependimentos, porque, apesar de tudo, faz parte da sua cultura. “Mas sempre estive muito ocupado na escola.” Y Ping Chow aponta para o domínio do mandarim como uma das mais-valias que estes chineses podem apresentar no mercado de trabalho, ainda que não saibam ler nem escrever. Tornam-se pontes. “São indivíduos síntese entre duas culturas distintas”, reitera Pedro Góis. “Não são portugueses, nem chineses, são ambas as coisas e podem ser excelentes embaixadores.” 
E não só conseguem ganhar a vida trabalhando com os imigrantes em Portugal, como podem ser contratados por empresas que têm interesse em estabelecer-se na China. O objectivo de Ding não é esse, até porque lá se sentiria um estrangeiro. Mas talvez existam outras coisas que o tornam mais chinês do que reconhece instantaneamente. “Noto que há mais respeito na relação com os pais.” E também mais controlo sobre a irmã, de 16 anos. “Não a deixamos sair tanto à noite.” O plural “nós” justifi ca-se: “Os meus pais relegaram em mim muito trabalho em relação à minha irmã: ajudar na escola, tirar dúvidas, encorajar para estudar. E também não a deixar sair sempre com as amigas!” Mapas e sopa de letras Podemos chamar-lhe Zhu Zhen ou Susana. Em todo o caso, ninguém pergunta nada quando se toca à campainha de um prédio da Mouraria, em Lisboa. A porta abre-se, sobe-se um andar. A sala, sem tentativas de decoração, tem meia dúzia de mesas, paredes amarelecidas e uma televisão ligada na CCTV. Faz-se o pedido na única língua que aqui é entendida: sopa de massa, com carne e couves. As janelas abertas aproximam-nos do prédio da frente e deixam entrar o ruído da cidade. Buzinas e mandarim intrometem-se no português quase correcto, e musicalmente chinês, de Susana. Minutos antes discutiu vivamente ao telefone os preços de uma casa que quer comprar. Vive com a mãe num apartamento ali perto, nos Anjos, que ambas dividem com mais sete pessoas. Talvez isso explique a sua vontade de ter uma casa para ela. Mas as suas preocupações vão além do espaço onde quer viver. “Uma pessoa tem de se submeter. Eu sei que tenho de ganhar dinheiro para ter uma casa com um quarto para a minha mãe [que fi cou viúva], para a sustentar quando ela envelhecer. E se ela quiser ir para a China, tenho de lhe comprar uma casa lá.” Entre fios de massa — comeu com colher e pauzinhos, que fez questão de limpar primeiro com o guardanapo, apesar de novos — confessa: “Os chineses é casar, abrir loja, ir para lá com os fi lhos; sempre todos juntos. É secante.” Susana tem as suas certezas: “Se eu me casar, não vou para a loja. Prefiro gastar dinheiro numa casa que seja minha do que abrir um negócio que não sei se dá ou não. Mas comigo é diferente, porque eu quero ficar aqui, não quero voltar para a China.” E as lojas, como os restaurantes, são isso na maior parte das vezes, um trampolim para regressar a casa. Fala assim, “os chineses”. Eles de um lado, ela do outro? “Não sou chinesa, nem portuguesa. O estilo de vida é chinês, mas a forma de pensar é portuguesa.” Os factos da sua vida traçam nela os mapas dos dois países. Um recuo às origens: o pai pobre, de uma aldeia de Zhejiang, a mãe com uma vida mais confortável, na cidade. O casal veio para Portugal, onde já tinha família, no princípio da década de 1980. O pai começou por ser vendedor ambulante, depois quis mudar para a restauração. Susana tinha quatro anos quando decidiram que ela deveria ir viver para a China. “Eles não podiam ficar comigo, tinham de fazer negócio. Para abrir um restaurante, comigo não dava.” Ficou lá até aos sete anos; ela a viver com os avós maternos, na cidade, a irmã mais nova com os avós paternos, no campo. E histórias como esta, de crianças que ficam separadas dos pais enquanto eles fazem vida de formiguinhas, há muitas. “Quando decidem emigrar, os chineses optam por um estilo de vida: ‘sacrifício’ e ‘sofrimento’ são palavras que usam muito”, comenta a antropóloga Irene Rodrigues, do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP). Desses tempos, Susana guarda pouco mais do que a recordação das aulas de música e dança. Não chegou para aprender os caracteres. Mas isso não a impede de trabalhar num escritório de contabilidade cheio de clientes chineses. Sonhos em mandarimEm geral, “existe a preocupação para que não percam o laço à China através da língua”, continua Irene Rodrigues. “Um chinês que não fale chinês não é totalmente chinês, dizem eles.” E isso ajuda a explicar o facto de uma escola básica junto à Avenida Almirante Reis, em Lisboa, mudar de nacionalidade todos os sábados de manhã. Os carros param à porta para deixar sair meninas de rabo-de-cavalo e mochilas corde- rosa, ou rapazes que se lançam a correr para o portão. E lá dentro, as paredes pintadas com jardins e fundos do mar, habituam-se a outros sons que não o bê-á-bá. Tânia, Letícia, Inês, Xi e Patrícia. Que ninguém tire conclusões precipitadas: são todas chinesas, embora as percentagens culturais que elas próprias equacionam possam variar. Algumas nasceram cá, outras vieram pequenas. Na aula de mandarim estiveram com um texto na mão: I Have a Dream, de Martin Luther King. Primeiro aprendem a lê-lo e só depois se debruçam sobre o signifi cado. Liberdade dos africanos, luta contra a escravidão, explicam. Não será sobretudo sobre a discriminação? “Sim, isso.” Nenhuma se identifica com os problemas que levaram Luther King a sonhar. Não sofreram nada disso. O que não quer dizer que não haja observações a registar: “Na rua há sempre alguém que manda um comentário”, diz Tânia, de 15 anos, nascida em território português. “Não ligo, porque sei que a minha vida cá é boa.” Já Xi, que chegou com seis anos (tem agora 16), sentia-se “discriminada por ser diferente e não saber falar.” Aos sábados aprendem então o que as pode levar de volta às origens, nem que seja para breves mergulhos. Falar mandarim falam, mas ler e escrever é outra história. Todas consideram que os chineses dão mais valor à educação — e esse é o argumento de Letícia (16 anos) para explicar por que frequenta a escola inglesa St. Julians, em Carcavelos. “Posso entrar na universidade que quiser.” Colocar os filhos nas escolas privadas serve não só para tentar oferecer-lhes o melhor ensino; é também um símbolo de estatuto, tal como o carro, ou o sítio onde se mora, explicará a antropóloga. Geralmente, há um grande investimento na educação das crianças, “com uma percentagem total de escolarização e uma aposta nisso como processo de mobilidade social”, diz Pedro Góis. E esta “percepção da educação como um investimento de sucesso” será uma das distinções importantes a fazer entre a comunidade chinesa e outras comunidades de imigrantes, como as que vêm de países africanos.Muitos filhos de imigrantes são enviados para a China para fazer lá uma parte da escolarização e ficar com o problema da língua resolvido — isso e porque há uma desconfiança generalizada em relação ao ensino português, onde “dizem que as crianças andam à solta”, cita Irene Rodrigues.Às vezes, voltam com outro problema. “A dificuldade de adaptação. Quando regressam com 12 ou 13 anos, é mais difícil.”Uma reforma no AlentejoFoi precisamente com 12 anos que Hugo chegou a Lisboa, em 1999. Resistiu a sair da China porque “achava que em Portugal não se jogava à bola e não ia poder comer arroz todos os dias!” Mas essas não foram, obviamente, as barreiras mais difíceis de transpor. “Sentia-me incapaz de comunicar com os portugueses... Falavam dos Morangos com Açúcar, e eu: ‘Quem é?’ Faltavam temas para partilhar.” A língua acabou por aprender, a custo, e graças a livros para crianças da primária. “O português continua a ser o meu ponto fraco. Para escrever relatórios, ou artigos na Faculdade [de Ciências de Lisboa, onde está no 2.º ano de Informática], tenho de pedir ajuda aos meus colegas.” O domínio é agora mais do que suficiente para dizer isto: “Os alunos só vão às aulas se querem e essa é uma das razões por que muitos chineses desistem de estudar. Saem do liceu e já não vão para a faculdade, porque lá o esforço tem de ser muito maior. É uma dificuldade enorme.” Ele próprio pensou fazer isso mesmo, desistir e abrir uma loja. “A maioria [das lojas] é rentável, mas há muita concorrência. Às vezes chega para pagar a renda, comer e mais nada.” Com conhecimentos de informática, espera conseguir um trabalho razoável quando sair da universidade. “Mas, se formos concorrer para o mesmo emprego, temos de ser bastante melhores do que os portugueses para sermos seleccionados; é normal, os portugueses é que são donos da terra.” Hugo também quer ser dono da terra, ou por outra: “De um monte no Alentejo para quando me reformar, por volta dos 40, poder fazer vinho.” Não é o retrato típico do chinês tímido. Com uma pequena argola na orelha esquerda, camisola às riscas tipo râguebi, vai arrastando os seus chinelos de Verão pela faculdade, fazendo lembrar, talvez, um estudante de uma universidade americana. E talvez por ter chegado a Portugal “já com a personalidade formada”, como diz, lhe seja mais fácil ter uma visão fria de como os jovens chineses aqui vivem: “Noventa por cento do tempo livre é para ir aos centros comerciais; com os portugueses, já fui ao teatro, ao futebol. 
Não conheço nenhum chinês que já tenha ido a um museu.” Y Ping Chow é categórico: “O grande problema é aquela camada de jovens que vieram com 14 ou 15 anos. São ainda crianças, têm os amigos lá, e não se conseguem integrar bem aqui porque com essa idade já é difícil aprender a língua e juntarem-se a jovens da mesma idade que nasceram [ou cresceram] cá. Quando estavam na China, viviam melhor porque os pais mandavam-lhes dinheiro, e como são filhos únicos era todo para eles.” Vêm para Portugal e deixam de estudar, ficam a trabalhar com os pais. “É uma despromoção.” Até podem ter dinheiro no bolso, conduzir bons carros, “mas é um grupo de insatisfeitos.” Uma aldeia da EuropaDong não anda com um ar insatisfeito, antes pelo contrário, sorri muito. Mas poderia encaixar neste perfil. Tinha 13 anos quando chegou (agora tem 24), trocando Wenzhou, na província de Zhejiang, por Lisboa, onde os pais já estavam desde 1990. “A China era muito pobre nessa época.” Agora, de cada vez que regressa, ano sim ano não, fica perplexo com as mudanças. “Cada vez as ruas estão mais largas.” Em vez do engenheiro informático que gostaria de ser, Dong faz transportes de mercadorias na empresa do pai. À conta disso, diz que conhece Portugal de uma ponta a outra. “Qualquer canto, já lá fui. Ambiente muito lindo, bonito mesmo. Na China sempre me disseram que Portugal era uma aldeia da Europa. Eu concordo, mas gosto.” De qualquer forma, a revolta não parece estar nos seus genes. Diz que não se interessa pela política, e ainda assim avança: na China “um partido controla tudo, não se pode falar de nada. Mas todas as coisas têm um lado bom e um lado mau. Não há liberdade para falar, é só desenvolver a economia. A alteração política complica algumas coisas, e na China não existe isso, é mais estável”. Pelo menos uma vez por mês, junta-se a alguns amigos para jantar no Grande Palácio, um restaurante chinês onde as mesas são sobretudo ocupadas por... chineses. Susana, acabada de chegar, Bin, Pan e Diana. São 18h30 e em cima da mesa estão couves, tofu, chá e 7-Up. Virão cerejas para todos. Dong brinca com Bin quando o apresenta: “Bin, de Bin Laden.” Tem 20 anos, e os quatro que passou cá não lhe deram ainda desenvoltura para dispensar tradução quando diz que Mao Tsetung “já passou à História.” Os outros rematam com frases menos indiferentes. “Foi ele quem mandou os japoneses para casa”, “é o grande líder”, “salvou a China”. O Superman, corrige-se Bin. “Na China só houve dois grandes líderes, Deng Xiaoping e Mao.” Sobre o que aconteceu há duas décadas numa praça da capital ninguém diz nada. Dong até ouviu falar de Tiananmen, pelos pais e avós, “que viveram esse tempo”. “Agora já não interessa, agora olha-se para a frente.” Hugo já tinha sido igualmente pragmático. “Culturas diferentes têm políticas diferentes” e “os europeus dão muito valor a este acontecimento.” De resto, a situação na China “não é tão má como as pessoas dizem, e é importante haver algum controlo. Os meus colegas pensam que se dizemos mal de alguém se vai logo preso. Pode-se dizer, mas não podemos publicar coisas violentas no jornal, que causem efeitos muito grandes”. Serão necessários outros 20 anos para que as coisas “mudem bastante”, diz. “Concordo com a estratégia de alargar bocadinho a bocadinho.” E esse foi, quanto a si, o principal erro dos estudantes que saíram à rua a 4 de Junho 1989. “Queriam liberdade total e começaram a pedir coisas a mais. O país ainda não estava em condições de aceitar as mudanças e depois aconteceu a tragédia.” Olhar para os pais e não para os filhosSe perguntarmos a Yang Xi, 22 anos, que tipo de regime governa a China, ela não sabe responder. Não tem paciência para a política, nem de cá, nem de lá. Mas há uma coisa que a sensibiliza. “O filho único. Por um lado acho bem, já há muita população. Mas, por outro, imagino que se acontecer alguma coisa ao filho...” Ela não tem irmãos, mas de certa forma tem mais do que uma mãe. “Dava a vida pelos meus avós, mesmo”, diz enquanto conduz o seu Audi em direcção ao Instituto Politécnico de Setúbal, onde frequenta Engenharia Biomédica. Quando lhe disseram que vinha para Portugal ter com a mãe, pôs-se aos berros, com as lágrimas a escorrerem pela cara, uma vergonha no aeroporto para uma menina de dez anos. “A China era tudo para mim.” Acabou por passar a adolescência em Albufeira, perto do mar. Mas não era para a praia que ia depois da escola quando estava calor, como faziam os colegas. Ia para o restaurante dos pais trabalhar. “Acho bem, ajudar a família.” Ainda hoje, passa os fins-de-semana em Beja — onde a mãe entretanto abriu uma loja — a fazer montras, a ver o que é preciso encomendar... A hierarquia familiar mantém-se mesmo quando deixam o país, diz Irene Rodrigues. Os mais novos devem obediência aos mais velhos, e há ainda “uma ligação muito grande à geração anterior. Os chineses olham mais para os pais do que para os filhos”. Michelle Chan não o saberá confirmar em primeira mão porque ainda não é mãe. Mas conta que, apesar da independência dos seus 34 anos, não comprou um Smart porque o pai não gosta do carro. E está a receber aulas de Tai Chi porque o pai lhe disse que era indispensável antes de começar com o Kung Fu, que era o que ela queria — agora já não trocava. E assim a vemos num ginásio a fazer o que milhões de chineses fazem todas as manhãs nos jardins públicos, mas que raramente se assiste em Lisboa. Empurra o ar com uma mão, trá-lo de volta com a outra. Empurra a ponta dos pés para o chão. Empurra o ar para cima, com as palmas das mãos viradas para o céu, e para baixo, em direcção à terra. Onde começa e onde termina aquilo que faz de Michelle chinesa ou portuguesa? Nem ela saberá. É de terceira geração, o que significa que os seus pais já nasceram aqui. Mas é ela própria quem diz: “À medida que o tempo passa, vou ficando mais chinesa.” Mas ainda não ao ponto de não reparar em certos detalhes, como no dia em que foi lanchar com uma prima (de segunda geração) a uma casa de chá e trouxeram por engano um bolo inteiro para a mesa, em vez da fatia que tinha sido pedida. “‘Deixe estar o pacote, e traga-me uma fatia’, disse ela. Não podia dar a entender que não tinha dinheiro para levar o bolo todo.”Este é um dos resumos possíveis. Outro é quando ela cozinha seis pratos diferentes porque os pais vão lá jantar a casa. “Quando saí de casa dos meus pais, passei a ser tratada como uma visita e a ser recebida com banquetes. Na primeira vez que os convidei, fiz só um prato e o meu pai não comeu, fez cerimónia.” Ser técnica de som “foi uma desobediência”, porque cinema não era o curso que estava planeado para ela. “O meu pai não me falou durante um mês.” Mas as amarras têm os seus limites. E tal como as meninas da escola dos Anjos dizem que os pais bem podem tentar escolher- lhes os maridos — que serão portugueses ou chineses, sabe-se lá, elas ainda nem sequer namoram — também Michelle não se sente presa às iniciativas paternas. “Os casamentos arranjados são mais discretos do que se pode pensar. Tentaram comigo mas percebeu-se logo que não resultaria.” Dong confirmara que às vezes há uma certa pressa nos casamentos. “Já namorei e as coisas complicam-se... Há rapazes chineses que se casam aos 17, 18 anos. É muito cedo. Ainda não se divertiram na vida de jovem.” E aqui se chega a um ponto em que se mostra como tudo pode ser política. Mesmo as relações entre pais e filhos. “Na China existem valores associados a uma hierarquia. Em Portugal há democracia, com uma partilha de decisões”, diz Pedro Góis. “Se pusermos estes valores dentro de uma esfera familiar, onde as decisões são tomadas pelo patriarca, pode haver conflitos.” Talvez seja preciso ter crescido fora da China, e já ter passado dos 30, para poder dizer, lapidarmente, como Michelle: “Escolho não exercer alguma da minha liberdade.”

Sérvia anuncia prisão de acusado de genocídio

por A-24, em 26.05.10
Ratko Mladic atuou como chefe do Exército sérvio durante guerra da Bósnia.
Mais procurado da Europa, ele foi indiciado pelo massacre de Srebrenic.

O presidente sérvio, Boris Tadic, anunciou nesta quinta-feira (25) a prisão de Ratko Mladic, o homem mais procurado da Europa, que atuou como chefe do exército da Sérvia durante a guerra da Bósnia.
"Detivemos Ratko Mladic hoje [quinta-feira] de manhã. O processo de extradição está em curso", afirmou Tadic, aludindo à transferência do ex-comandante para ser julgado pelo tribunal de Haia. Até a prisão desta quinta, Mladic era o principal acusado de crimes de guerra foragido desde o conflito dos Bálcãs, nos anos 1990.
Segundo o presidente, Mladic foi preso na Sérvia. "Isto remove um fardo pesado da Sérvia e fecha uma página infeliz da nossa história", Comandante das forças sérvias durante a guerra da Bósnia (1992-1995), Mladic foi indiciado pela corte internacional de crimes de guerra em 1995 sob a acusação de genocídio no massacre de 8 mil muçulmanos em Srebrenica e o cerco de 43 meses a Sarajevo.
Ele foi preso no vilarejo de Lazarevo, perto da pequena cidade de Zrenjanin, no nordeste do país, a cerca de 100 quilômetros da capital Belgrado, informou um oficial de polícia.
Sobreviventes muçulmanos bósnios disseram que a notícia causa um sentimento misto.
"Estou feliz por estar vivo para testemunhar sua prisão, e ao mesmo tempo lamento muito que outras vítimas de Srebrenica não viveram para testemunhar este momento", disse Munira Subasic, que perdeu o filho e o marido quando soldados servo-bósnios sob o comando de Mladic tomaram Srebrenica, designada na época como "área segura pela ONU".
Autoridades informaram que o homem foi detido com documentos no nome de Milorad Komadic e que sua prisão aconteceu graças a uma denúncia anônima.
União Europeia
A demora na prisão do ex-general sob acusações de genocídio era tida como um entrave aos esforços da Sérvia para ingressar na União Europeia.
O primeiro-ministro da Holanda, Mark Rutte, disse nesta quinta, no entanto, que a prisão de Mladic é uma importante condição para a entrada da Sérvia no grupo, mas não significa sua automática adesão.
A Holanda foi um dos principais países membro da União Europeia a exigirem a prisão de Mladic antes da Sérvia ser aceita como parte do grupo.
Tribunal
A chefe das Relações Exteriores da União Europeia (UE), Catherine Ashton, elogiou a prisão do ex-general e disse que ele deveria ser enviado ao tribunal para crimes de guerra sem demora.
"Esse é um passo importante para a Sérvia e para a Justiça internacional", disse Ashton em comunicado nesta quinta-feira.
"Esperamos que Ratko Mladic seja transferido para o Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia (TPII) sem demora. A total cooperação com o TPII segue sendo essencial para o caminho da Sérvia rumo a seu ingresso na UE", afirmou.
Globo

"UM MILHÃO DE NEGROS EM PORTUGAL - SERÁ VERDADE?"

por A-24, em 25.05.10
Um anónimo trouxe aqui um link que não tive tempo de procurar, mas, de qualquer modo, versava sobre uma hipótese que encontrei neste texto:
Em Portugal e regiões autónomas, está estimado em cerca de 1 milhão de portugueses (ou um pouco mais) de negros e seus descendentes (mestiços) em Portugal com nacionalidade portuguesa (alguns com dupla)... e sem voz activa.
(...)
Nunca ninguém fala deles (dos negros/mestiços portugueses)... só falam dos mediáticos luso-moçambicanos Eusébios e dos mais recentes casos como o do nigeriano-português Obikwelo ou de um futebolista ou basquetebolista negros. (Obikwelo sem sangue português) ao contrário de Eusébio de avô paterno português, branco, dos Silva Ferreiras).(...)
The Empire strikes back
Expressão inglesa "o Império contra-ataca" para dizer que agora a “viagem dos descobrimentos” é feita em sentido contrário – pelos africanos das ex-colónias “invadindo” as antigas potências coloniais na Europa.
E isso se reflecte também em Portugal. É que nas ruas portuguesas ninguém anda com o BI português na testa e a sociedade portuguesa de repente se esqueceu que os (brancos) portugueses (bem ou mal) estiveram séculos em África e com as independências muitos (negros/mestiços) vieram para Portugal à procura de algum
sossego após os anos conturbados do pós-independência.
Foram fluxos desde 1974/1975. Só de Moçambique foi registada a saída para Portugal de cerca de 70 mil pessoas mestiças/negras na década de 1976 a 1986.
Num agregado alargado actual de mais 5 elementos de descendentes daria cerca de 350 mil pessoas só de ascendência moçambicana e todas com a nacionalidade portuguesa. (Contando os falecidos entretanto). Os de Angola e os de Cabo Verde com
nacionalidade portuguesa ainda serão de um número maior. Acrescentado os da Guiné e São Tomé e Príncipe o número poderá ultrapassar, actualmente, a cifra de 1 milhão de portugueses de origem negro/mestiça. Não há dados oficiais. Mas fez-se uma estimativa por aproximação com os dados disponíveis.
Há em Portugal não só reformados negros/mestiços portugueses mas em todas áreas da vida profissional e social (até cientistas) menos nas actividades de maior visibilidade (na televisão) e a nível mais sensível de algum "poder" como na política e "business" que nunca lhes deu espaço. A TVi foi pioneira em Portugal com José Mussuaili como locutor dos noticiários televisivos. Mas foi retirado da luz da ribalta pouco depois não por falta de profissionalismo (pelo contrário provado) mas por razões “desconhecidas”. Talvez para muitos ele como pivot “escurecia demasiado” o ecrã de TV. O olhar da maioria do português não aceitaria provavelmente de bom grado. Muito do género: “não sou racista mas…filha minha branca não casa com preto.” 
Por outro lado, em Portugal, o acesso ao sistema de ensino superior público é também duplamente discriminatório nos aspectos-socioeconómico e racial, aliás iniciado na primária e secundária. Não é por acaso que as cadeias (prisões) portuguesas têm um alto índice de reclusos negros/mestiços. É uma equação de causa e efeito. A
severidade na punição muitas vezes é maior para crimes menores consoante a cor da pele mais escura.
(...)
É interessante que até num sistema colonial/“fascistóide” como foi o de Oliveira Salazar houvesse a preocupação mesmo em termos de propaganda cosmética interna e externa, em dar alguma visibilidade a cidadãos negros/mestiços através da participação na vida parlamentar na AR em Lisboa.
Eram deputados/representantes das suas colónias de origem quer de Angola, Moçambique, Guiné, São Tomé e Príncipe e Cabo Verde. (Isto antes do 25 de Abril 1974). Claro para uns é irrelevante mas por outro lado revela que apesar de tudo (chamados fantoches ou não) eram vistos com alguma dignidade pelo regime. E naquele tempo a densidade demográfica de negros/mestiços em Portugal era mínima ao contrário de hoje que em algumas artérias das cidades de Portugal não se pode circular 15 minutos sem se cruzar com um negro/mestiço.
(...)



Curioso como o autor salienta, no segundo parágrafo acima citado, a questão da ligação sanguínea como argumento como que a reforçar o direito à cidadania... e todavia queixa-se por os negros serem discriminados em Portugal. Ou seja, queria dar a lição de moral racista mas não reparou que logo ao princípio se tinha contradito...

De resto, a lição de moral nem é lição alguma nem tampouco é uma moral digna de ter em conta. Apenas a chantagem emocional-racial, a querer apelar ao sentimento de culpa «racista» do branco, aproveitando-se dessa patente fragilidade do actual edifício político-ideológico dominante na Europa para aí tentar exercer um efeito de cunha a favor dos seus... isto na melhor das hipóteses. Como instrumento dessa chantagem emocional, não tem pudor em usar os «argumentos» mais rascas e descarados, os mesmos que, de resto, são usados pela elite reinante no Ocidente para desarmar os Ocidentais na sua própria terra - a alegação de que a desproporcional taxa de reclusos negros se deve ao racismo da parte dos tribunais.

Ou seja - os Europeus têm de arcar com a criminalidade negróide, que lhes inferniza tantas vezes o quotidiano... e, para cúmulo do sadismo, ou do masoquismo, ainda têm de ser considerados culpados por prenderem quem os agride e os rouba. A certa altura, dir-se-ia que o que era preciso era que os políciais brancos fossem deixando escapar uns quantos meliantes negros, assim de quando em vez, só para o cidadão branco tolhido pelo anti-racismo (felizmente, em escassa quantidade, apesar das sessões incessantes de lavagem cerebral anti-racista) ficar de consciência mais tranquila...
Acresce que, além de moralmente abjecta, a alegação é igualmente ridícula de tão inverosímil, porquanto é sabido que os tribunais são precisamente dos mais fortes viveiros da ideologia politicamente correcta, multiculturalista, anti-racista, pelo que não é crível, para quem saiba ao menos o mínimo da sociedade em que vive, que os arguidos negros sejam julgados com mais severidade pelo mesmo crime que os arguidos brancos.
Quanto à queixa pela discriminação ao nível universitário, é um verdadeiro vómito, chega a revoltar, para quem sabe que os negros vindos de África gozam afinal de acesso directo à universidade, mesmo sem terem para tal as devidas qualificações,o que significa que tiram lugar aos indígenas.E ainda se queixa o autor de que os Portugueses não querem saber dos «seus» negros e mestiços... pudera. Portugal nada, mas mesmo nada de jeito tem a ganhar com esta gente.
E isto leva à magna questão, que se põe logo à cabeça: será verdade que dez por cento da população portuguesa é alienígena? Pessoalmente, não acredito muito. Mas nunca fiando - o que está em causa é demasiado precioso para que possa haver qualquer tipo de laxismo, pelo que, em cometendo erro de zelo, antes por excesso que por defeito: quando há sequer uma possibilidade de a Estirpe estar em sério risco de se perder, nada é demasiado rigoroso e extremado para a defender. A possibilidade de que Portugal possa ter já no seu território um milhão de não europeus justifica só por si que os Nacionalistas apertem o passo e marchem com mais determinação para fazer o que for preciso em nome da Grei.

O holocausto silencioso das mulheres a quem continuam a extrair o clítoris

por A-24, em 20.05.10
Artigo de Sofia Branco, Publico
04/08/2002



Toda a gente sabe que existe, mas raros são os que vivem de perto com a mutilação genital feminina e aceitam falar sobre o assunto, escondendo-se sob a capa do segredo e do tabu. A prática é tão ancestral que se desconhece a sua origem exacta, mas já afectou 135 milhões de crianças, jovens e mulheres. Estima-se que anualmente, dois milhões estão em risco. Seis mil por dia. Duzentas e cinquenta por hora. Quatro por minuto. Entre os países que a praticam há um que fala português: a Guiné-Bissau. O PUBLICO.PT entrou na comunidade guineense muçulmana e descobriu que há excisadoras em Portugal.

Mesquita de Lisboa, duas da tarde de uma sexta-feira, dia sagrado para os muçulmanos. Envergando uma túnica larga em tons de amarelo e preto que deixa por vezes ver a nudez interior, a fanateca [nome guineense dado à mulher que pratica a excisão] diz de imediato que não está disposta a revelar nem denunciar o ritual feminino que implica o corte do clítoris. Fala da "vergonha" que seria um filho seu ver a prática exposta num jornal e, com isso, perder o carácter secreto que lhe está ligado.
Exprimindo-se em fula [dialecto da tribo com o mesmo nome, uma das etnias muçulmanas mais expressivas da Guiné] e fugindo ao olhar da jornalista, a septuagenária sem nome lá vai dizendo que "é uma coisa dolorosa" e que se pode "salvar ou morrer".
Zangada e desconfiada, faz questão de deixar bem claro que só está ali a conversar porque o líder da comunidade guineense muçulmana em Portugal, que fez as apresentações e teve de assegurar a tradução do diálogo, lhe tinha pedido.
Há 15 anos em Lisboa, a fanateca assume ter feito excisões na Guiné, mas garante que em Portugal "ainda" ninguém lhe pediu e recusa-se a "pôr o segredo das mulheres a nu".
A dada altura chora, porque já se está a "falar há tempo demais" sobre o assunto. No final da conversa é-lhe colocada uma hipótese que a faz mudar radicalmente de atitude. "Se eu me apaixonasse por um guineense muçulmano e ele quisesse casar comigo, pedindo-me para ser excisada, e eu aceitasse o pedido, poderia fazê-lo em Portugal?", questiona a jornalista. Brilho nos olhos e resposta afirmativa. Não faltaria quem fizesse. Segue-se a advertência de que a intervenção implica sofrimento, porque é feita "sem anestesia", e o conselho de se fazer acompanhar por quatro mulheres, "para a segurarem". Fora isso, era só o futuro marido "dar a ordem" e, obviamente, pagar o preço da excisadora.
A conversa termina já a mesquita se esvaziou de gente. O líder da comunidade muçulmana da Guiné, Manso Baldé, que antes tinha confirmado ao PÚBLICO que a mutilação genital feminina (MGF) era praticada em Portugal e que apresentou a septuagenária como sendo uma fanateca, despede-se perguntando à jornalista se percebeu que a anciã "não quis contar" tudo o que sabia. Ainda há tempo para mais uma troca de palavras com a fanateca. Segura as mãos da jornalista e insiste: "Então, sempre quer fazer?".

Duas filhas morreram depois da excisão
Nova tentativa. Quinta do Mocho num dia de sol. Tchambu recebe o PÚBLICO em sua casa. Guineense, muçulmana e excisada, não tem dúvidas em dizer que a MGF "só prejudica a mulher". Originária da tribo biafada, Tchambu não conseguiu evitar que a filha mais velha também fosse excisada, por pressão da avó, mas impediu que a mais nova tivesse o mesmo destino.
Segundo Tchambu, enquanto nas outras tribos o fenómeno tende a desaparecer, no caso dos fulas - a etnia do seu companheiro actual - trata-se de um ritual "indispensável e obrigatório". "Eles fazem o que viram os antepassados fazer", afirma. Tchambu já teve discussões com o marido sobre a MGF. Apesar de duas das suas filhas terem morrido na sequência do fanado - nome do ritual guineense que marca a passagem da infância à idade adulta e que inclui a circuncisão, no caso dos rapazes, e a vulgarmente chamada excisão, no caso das raparigas -, o marido continua a dizer que o ritual "é um dever para um muçulmano" e considera que as filhas "morreram em combate".
Tchambu dispõe-se a ajudar o PÚBLICO a encontrar outra fanateca. Recorre à irmã, que é "muito religiosa". Bobadela, no mesmo dia de sol. A irmã, mais velha, diz, num português difícil de compreender, que conhece "senhoras que fazem" e que em Portugal "manga [muitas em crioulo] meninas" já foram excisadas. Com uma neta recém-nascida, ela própria admite que levará a criança para a Guiné "para fazer lá". Dois encontros marcados com a fanateca, dois encontros adiados. "A senhora manda dizer que se quiser fazer tudo bem, mas se for para denunciar não vai falar".

"As mulheres que não são excisadas não prestam"
Sendo que na Guiné o ritual se mantém, a questão da conservação da prática no seio da comunidade residente em Portugal, na sua grande maioria concentrada em Lisboa, é inevitável. O PÚBLICO conversou com vários guineenses, muçulmanos e não muçulmanos, e a resposta foi quase sempre afirmativa, incluindo invariavelmente o "já ouvi falar de casos".
Três líderes da comunidade muçulmana guineense em Portugal, dois fulas e um mandinga, não hesitaram em confirmar a manutenção da prática. Durante um encontro com o PÚBLICO, também na mesquita de Lisboa, os três membros da Associação de Muçulmanos Naturais da Guiné garantiram que a comunidade residente em Portugal "ainda faz o fanado", masculino e feminino. Com uma diferença: enquanto os rapazes são circuncidados nos hospitais, entre os nove e dez anos de idade, as meninas são excisadas em casa, recorrendo-se a uma anciã e normalmente ainda bebés, "com dois ou três anos, porque é mais fácil nessa altura".
Admitindo que a festa associada ao ritual vai-se perdendo e que a tradição está "actualmente reduzida à excisão", os três responsáveis falaram da excisão feminina com a naturalidade com que se fala de outra tradição qualquer, reconhecendo, no entanto, que se trata de "uma cerimónia muito delicada" e que pode, quando mal feita, conduzir à morte.
Muitas das vezes, quando algo corre mal no procedimento, costuma culpar-se a menina, porque já era impura, ou os pais da menina, porque não a educaram na pureza, ou atribui-se o fracasso a uma qualquer intervenção divina.
Admitindo o carácter "secreto" da prática, os líderes muçulmanos adiantaram desde logo que as excisadoras "têm medo de ser identificadas, agora que há muitas organizações por aí que combatem" a MGF.
"Os usos e costumes não devem ser abandonados. Há uma tendência [na Europa] para monopolizar a civilização e cultura dos outros. Não deviam pôr em causa [os nossos valores], nem dizer 'A nossa civilização é mais bonita do que a vossa'", criticou Alage Mamadu Dumbiá, um dos membros da associação. "Não é crime, não pode ser crime, porque é a nossa tradição. É um símbolo da nossa identidade, uma forma de continuarmos a saber quem somos, fora do nosso país", defendeu.
"Para nós, as mulheres que não são excisadas não prestam", explicaram os responsáveis. Na Guiné, utilizam-se até duas denominações diferentes para os excisados e não excisados. Aos primeiros, chama-se "lambé", que quer dizer "a pessoa que já sabe", aos outros chama-se "blufe".


O argumento de Abraão

Os responsáveis lembraram ainda que "há uma história" por trás da MGF. Conta-se que Abraão (ou Ibrahim, em árabe) casou com a bela mas estéril Sara. Foi ela própria que lhe sugeriu que tomasse outra mulher, que lhe desse descendentes. Abraão escolheu Agar, a escrava egípcia, que engravidou. Existem várias versões do fim da história, mas a que interessa para o caso conta que Sara, apercebendo-se do interesse crescente de Abraão por Agar, virou a sua ira contra a escrava, mutilando o seu órgão sexual. A este episódio relacionado com o profeta e patriarca das três religiões monoteístas, as fontes acrescentaram ainda que, durante os períodos de guerra, quando os homens saíam para combater, "era preciso tornar as mulheres mais frias, para que não procurassem sexo o tempo todo".
Reconhecendo a eventualidade de graves consequências para a saúde das mulheres, a MGF é vista por estes três homens como algo que "não é mau em si" e que "até tem aspectos positivos", nomeadamente o de obrigar à fidelidade ao marido, "evitando doenças, porque as mulheres se contêm para ter relações sexuais" e tendem a "conservar-se". Apesar disso, a prática "torna a mulher sempre higiénica". No entanto, realçam, a excisão feminina "não é uma obrigação".
Também o presidente da Associação Guineense de Solidariedade Social, Fernando Ká, disse já ter ouvido falar de "casos" de MGF no seio da comunidade guineense muçulmana residente em Portugal, mas não dispor de detalhes. Achando "possível" que a excisão feminina seja praticada em Portugal, Fernando Ká sublinha que não o será "em grande escala", mas apenas "por um número pouco significativo de pessoas". No entanto, confirmou, alguns pais levam as filhas para a Guiné para serem excisadas. Por seu lado, Manso Baldé, o presidente da Associação de Muçulmanos Naturais da Guiné, sublinhou que essa opção é "muito dispendiosa" e garantiu que "é mais frequente" fazer-se em Portugal. Virgínia, uma enfermeira que há muito combate a MGF na Guiné, mais conhecida como "tia Bitcho", adiantou ainda que os guineenses muçulmanos a residir em Portugal que tenham posses "mandam buscar" uma fanateca no país de origem, pagando-lhe as despesas para vir a Lisboa.

Confirmando que "as mulheres guineenses muçulmanas a viver em Portugal são todas excisadas", Fernando Ká afirmou acreditar que "a geração mais nova já não está tão susceptível à prática". Esta ideia foi também partilhada pelos membros da Associação de Muçulmanos Naturais da Guiné, que afirmam que o ritual "tem tendência para diminuir". No entanto, ninguém quer ser "o dessacralizador do sagrado", confessaram.

Benfica é campeão nacional

por A-24, em 19.05.10
O Benfica é o Campeão Nacional da Liga Sagres 2009/2010, após bater o Rio Ave, na Luz, por 2-1.
Os tentos foram apontados por Cardozo, logo aos 3 minutos, saindo as ‘águias’ a vencer para o intervalo. Já no segundo tempo o Rio Ave fez o empate, aos 72 minutos por Ricardo Chaves, mas o Benfica conseguiu superiorizar-se no marcador novamente pelo paraguaio, aos 78 minutos.
Cardozo sagrou-se ainda o melhor marcador da Liga.

Ficha de jogo
Jogo no Estádio da Luz, em Lisboa.

Benfica - Rio Ave, 2-1
Ao intervalo: 1-0.
Marcadores:
1-0, Cardozo, 03 minutos.
1-1, Ricardo Chaves, 72.
2-1, Cardozo, 78.

Equipas:

Benfica: Quim, Ruben Amorim, Luisão, David Luiz, César Peixoto, Airton, Carlos Martins (Maxi Pereira, 65), Ramires (Éder Luís, 46), Pablo Aimar, Saviola (Nuno Gomes, 83) e Cardozo.
Suplentes: Moreira, Maxi Pereira, Sidnei, Felipre Menezes, Kardec, Éder Luís e Nuno Gomes)

Rio Ave: Carlos, José Gomes, Gaspar, André Vilas Boas, Sílvio, Ricardo Chaves (Adriano, 80), Bruno Gama, Tarantini, Wires, Sidnei (Evandro, 63) e Bruno Moraes (Tiago Terroso, 54).

Suplentes: Trigueira, Evandro, Wesllem, Chidi, Tiago Terroso, Adriano, Magno

Árbitro: Jorge Sousa (Porto)
Acção disciplinar: cartão amarelo para Sílvio (24 minutos), Ricardo Chaves (73) e Cardozo (79). Cartão vermelho directo para Wires (11).
Assistência: 64 103 espectadores.

Eurovision Festival 2009 highlights

por A-24, em 17.05.10

By DAILY MAIL REPORTER

Last updated at 12:12 PM on 17th May 2009

    It wasn't quite her time, but Jade Ewen did her country proud when she earned the UK fifth place in the 54th Eurovision Song Contest 2009.

The Londoner's result was a significant improvement on last year's bottom-of-the-league rating, succeeding in reversing the UK's bad run of results in the contest with It's My Time by Lord Andrew Lloyd-Webber and Diane Warren.
It raises hopes that the landscape of Eurovision's voting process has been changed - with votes being cast on acts' musical merit instead of for tactical reasons.
jade ewen
Not quite her time... but did Jade Ewen help turn the tide of tactical voting associated with Eurovision?

The last time the UK enjoyed victory in the competition was in 1997 when Katrina And The Waves won in Dublin with Love Shine A Light.
However the 21-year-old singer's effort failed to secure enough points to compete with record-breaking Norway, who was crowned winner in Moscow.
With a score of 387, singer and violinist Alexander Rybak beat 24 other contestants and broke the record for the most points awarded during the competition with his folk-inspired song Fairytale.
The 23-year-old ethnic Belarussian, who grew up outside of Oslo, had been a pre-tournament favourite. This is the third time Norway has won the competition.
Iceland came in second with 218 points and Azerbaijan third with a score of 207.
Jade Ewen Lord Andrew Lloyd-Webber Eurovision
Flying the flag for the UK: Jade Ewen performs on stage under the watchful eye of Lord Andrew Lloyd-Webber


For the first time, voting in the final was split between televoting and panels of musical experts, designed to reduce the controversial 'neighbourly' voting practice.

Tonight's result could now mark an end to the controversial practice of tactical voting which has blighted the competition in recent years.
Last year's UK hopeful Andy Abraham finished joint last, raising questions about whether there was any point in the UK bothering to enter the competition if political voting took precedence.
This year, for the first time, phone votes from the public were combined with the votes of national juries to decide the marks and although alliances between neighbouring countries remained apparent, the winning Norwegian violin song Fairytale won praise across the borders.
Norway's Alexander Rybak
Winner: Norway's entry Alexander Rybak was the surprise winner

Alexander Rybak of Norway celebrates his victory
Winner's smile: Rybak holds his trophy after being crowned 2009 Eurovision winner
This year was also the first without Eurovision legend Sir Terry Wogan, who quit after last year's contest.
Sir Terry, who had been associated with the competition from the early 1970s, built up a huge following with his humorous comments but after Abraham's disappointment he said it was 'no longer a music contest' and that prospects for Western European participants were 'poor'.
But this year Graham Norton slipped easily into the role and injected some of the tongue-in-cheek sarcasm Wogan was famous for.
 Singer Oscar Loya of Alex Swings Oscar Sings of Germany performs with Dita Von Teese
Racy: Dita Von Teese shows off her 16 inch waist as she performs alongside German singer Oscar Loya of 'Alex Swings Oscar Sings'
Dita Von Teese Eurovision


What a Teese: Burlesque star Dita bolsters Germany's bog-standard entry with a raunchy striptease

Introducing opening act Cirque du Soleil, Norton observed: 'I didn't realise Janette Krankie was performing'.
And before Albania's entry he quipped: 'The bad news is you're about to watch Albania. She's only 17 so please bear that in mind. Where was her mother? Why didn't she step in a say no?'
Finalists from 25 countries performed an array of songs in the musical bonanza that is one of the most watched annual television events on the continent.
Iceland's Yohanna performs during the Eurovision Song Contest final
Second place: Iceland's Yohanna with Is It True


Flames licked the stage's periphery and vast electronic screens blazed stunning backdrops in a spectacular show, which featured cheesy, high-energy pop and tear-jerking ballads.
In a Eurovision first, crew members of the International Space Station gave the command to start telephone voting in a video message from the orbiting science laboratory.
Among the highlights was a saucy striptease routine from burlesque star Dita Von Teese, who performed as part of Germany's entry, receiving a riotous reaction from the audience.
Azerbaijan's AySel and Arash Eurovision
Third place: Azerbaijan's duou Aysel and Aras sang 'Always'

But not even the skin-tight silver trousers of German singer Alex Swings Oscar Sings - or his bizarre tap dance routine - could distract from his bum notes.
Despite Dita's impressive performance, they only managed 20th place.

Apart from a minor collision with a violinist's elbow, the UK's Jade Ewen dazzled on stage with Lord Andrew Lloyd Webber.
Azerbaijan's offering, Always from AySel & Aras, received a standing ovation while Iceland's Yohanna, Malta's Chiara and Sweden's Malena Ernman were met with rapturous applause.
Turkey's Hadise performs during the 2009 Eurovision Song Contest
Hadise of Turkey sings during the grand finale of the Eurovision Song Contest
Belly-dancing Beyonce: Turkey's singer Hadise came in fourth place

However Romania's performance sparked speculation that the foxy lead singer could have been lip-syncing.

As the scantily-clad women performed, a lone figure was seen in the shadows, but Romania insisted she was simply a backing singer.

This speculation was fuelled by Norton who revealed competition rules state all performers must be present on stage, but that the rules said nothing about whether others could mime.
Unsurprisingly, the contest featured its share of strange performances.
Kejsi Tola of Albania
Albania's singer was aged just 17... and was accompanied by a dancer masked in sequins

France's entry, a heavily made up Patricia Kaas, wailed her way through a truly forgettable number made only slightly more interesting with a strange, writhing dance routine at the end.
Greece's answer to Ricky Martin pranced on stage in white, skin-tight trousers, with over-enthusiastic dance moves to match his high-energy Euro pop number.
Dressed in what looked like a net curtain and performing in front of a giant image of herself as a old woman, Russia's Anastasia Prikhodko was a last-minute contender. Norton revealed her father is a billionaire.

Elena of Romania
Romania's Elena and her dancers dazzled. But was the real star of this song hidden in the shadows?

Svetlana Loboda of Ukraine
Racy: Ukraine's Svetlana Loboda performed a risqué routine with centurion dancers
A Bosnian Boyzone-style group didn't amaze with their drum-led performance. But if viewers thought Denmark's offering also sounded remarkably like the Irish pop band, it's not surprising as Ronan Keating was one of the song's writers.
Russia tried to capitalise on the prestigious event to showcase the nation's hospitality and growing role in modern society, but those efforts were undermined several hours earlier when riot police attacked gay pride rallies in the capital.
Gay rights activists sought to use the international competition to draw attention to what they call widespread discrimination against homosexuals in Russia. No injuries were reported.
Dima Bilan, who won the 2008 competition held in Serbia, performed his victorious 'Believe' R&B-style song before the competition kicked off with the Lithuanian entry - a piano ballad featuring various pyrotechnics.
Spain's Soraya performs during the 2009 Eurovision Song Contest
Strictly Spanish: Soraya, representing Spain, looked like a contestant from Strictly Come Dancing
Eastern bloc: Estonia's Urban Symphony brought a classical slant to the evening, while Russia's entry Anastasia Prikhodko was a last-minute addition
Britain, which has traditionally fared well in the contest, has struggled in recent years. But a campaign of musical diplomacy by composer Andrew Lloyd Webber, who composed the country's offering, won the country unlikely support from Russian Prime Minister Vladimir Putin.
Bookmakers also gave highly favourable odds to Greece, which was pinning its hopes on an elaborately choreographed stage performance involving a giant flashing treadmill.
Israel made an appeal for peace and harmony with 'There Must Be Another Way', sung in Arabic, Hebrew and English by Arab-Jewish duo Noa and Mira.
Moldova's Nelly Ciobanu
Traditional: Moldovan singer Nelly Ciobanu kicked her heels up
Sweden's Malena Ernman performs during the Eurovision Song Contest
Sweden's performer Malena Ernman tried - and sometimes failed - to hit several octaves
Russia, which earned the right to host this year's event with Bilan's victory, was pinning its hopes on 'Mamo', an overwrought ballad composed by a Georgian songwriter and partially performed in Ukrainian by a Ukrainian-born artist Anastasia Prikhodko.
Some contestants had tried to use the competition as a venue for settling international scores.
Two months ago, the pop group Stephane and 3G from Georgia vowed to perform 'We Don't Wanna Put In', a frenzied disco song that took a rhythmic rapier thrust at Putin.

The group pulled out when organisers warned that politically charged songs would not be permitted, including one referring to last year's Russia-Georgia war.
'Waldo's People' of Finland perform during the grand finale
Finland's group Waldo's People managed a dismal 25th place

Greece's Sakis Rouvas performs during the 2009 Eurovision Song Contest


Greece's answer to Ricky Martin, Sakis Rouvas, dances on stage in very tight trousers



Georgia responded by organizing its own state-supported songfest this weekend, Alter/Vision, drawing groups from 10 countries, including Russia. Stephane and 3G were to perform at the festival in Georgia's capital, Tbilisi, and young Georgians sang the 'Put In' lyrics on the streets as it got under way Friday evening.
Moscow authorities worked hard to turn the Eurovision contest to display Russia's hospitality and prestige, splashing out 24million euros ($32.5 million) on the show and a week-long series of decadent parties.
But the climate of goodwill was shattered in the hours ahead of the competition, when riot police broke up several gay rights demonstrations in Moscow.
Patricia Kaas of France
Writhing: France's performer Patrica Kaas launched into a bizarre dance routine

'Flor-de-lis' of Portugal sings during the grand finale of the Eurovision Song Contest
Representing Western Europe: Portuguese act Flor-de-lis
Eurovision enjoys considerable support from the gay community, and Russian activists hoped to take advantage of the event to draw international attention to what they describe as rampant homophobia in the country.
Police hauled away around 40 demonstrators, including Britain-based activist Peter Tatchell and American activist Andy Thayer of Chicago, co-founder of the Gay Liberation Network.
'Today's arrests go against the principles of Eurovision, which are about peace, harmony, cooperation and unity between all the peoples in Europe,' Tatchell said after being released by police.

Israel's Noa and Mira Awad perform during the 2009 Eurovision Song Contest
Israel's message of peace, sung in Arabic, Hebrew and English

UM MILHÃO DE NEGROS EM PORTUGAL – SERÁ VERDADE?

por A-24, em 15.05.10
Um anónimo trouxe aqui um link que não tive tempo de procurar, mas, de qualquer modo, versava sobre uma hipótese que encontrei neste texto:
Em Portugal e regiões autónomas, está estimado em cerca de 1 milhão de portugueses (ou um pouco mais) de negros e seus descendentes (mestiços) em Portugal com nacionalidade portuguesa (alguns com dupla)… e sem voz activa.
(…)
Nunca ninguém fala deles (dos negros/mestiços portugueses)… só falam dos mediáticos luso-moçambicanos Eusébios e dos mais recentes casos como o do nigeriano-português Obikwelo ou de um futebolista ou basquetebolista negros. (Obikwelo sem sangue português) ao contrário de Eusébio de avô paterno português, branco, dos Silva Ferreiras).(…)
The Empire strikes back
Expressão inglesa “o Império contra-ataca” para dizer que agora a “viagem dos descobrimentos” é feita em sentido contrário – pelos africanos das ex-colónias “invadindo” as antigas potências coloniais na Europa.
E isso se reflecte também em Portugal. É que nas ruas portuguesas ninguém anda com o BI português na testa e a sociedade portuguesa de repente se esqueceu que os (brancos) portugueses (bem ou mal) estiveram séculos em África e com as independências muitos (negros/mestiços) vieram para Portugal à procura de algum
sossego após os anos conturbados do pós-independência.
Foram fluxos desde 1974/1975. Só de Moçambique foi registada a saída para Portugal de cerca de 70 mil pessoas mestiças/negras na década de 1976 a 1986.
Num agregado alargado actual de mais 5 elementos de descendentes daria cerca de 350 mil pessoas só de ascendência moçambicana e todas com a nacionalidade portuguesa. (Contando os falecidos entretanto). Os de Angola e os de Cabo Verde com
nacionalidade portuguesa ainda serão de um número maior. Acrescentado os da Guiné e São Tomé e Príncipe o número poderá ultrapassar, actualmente, a cifra de 1 milhão de portugueses de origem negro/mestiça. Não há dados oficiais. Mas fez-se uma estimativa por aproximação com os dados disponíveis.
Há em Portugal não só reformados negros/mestiços portugueses mas em todas áreas da vida profissional e social (até cientistas) menos nas actividades de maior visibilidade (na televisão) e a nível mais sensível de algum “poder” como na política e “business” que nunca lhes deu espaço. A TVi foi pioneira em Portugal com José Mussuaili como locutor dos noticiários televisivos. Mas foi retirado da luz da ribalta pouco depois não por falta de profissionalismo (pelo contrário provado) mas por razões “desconhecidas”. Talvez para muitos ele como pivot “escurecia demasiado” o ecrã de TV. O olhar da maioria do português não aceitaria provavelmente de bom grado. Muito do género: “não sou racista mas…filha minha branca não casa com preto.” 
Por outro lado, em Portugal, o acesso ao sistema de ensino superior público é também duplamente discriminatório nos aspectos-socioeconómico e racial, aliás iniciado na primária e secundária. Não é por acaso que as cadeias (prisões) portuguesas têm um alto índice de reclusos negros/mestiços. É uma equação de causa e efeito. A
severidade na punição muitas vezes é maior para crimes menores consoante a cor da pele mais escura.
(…)
É interessante que até num sistema colonial/“fascistóide” como foi o de Oliveira Salazar houvesse a preocupação mesmo em termos de propaganda cosmética interna e externa, em dar alguma visibilidade a cidadãos negros/mestiços através da participação na vida parlamentar na AR em Lisboa.
Eram deputados/representantes das suas colónias de origem quer de Angola, Moçambique, Guiné, São Tomé e Príncipe e Cabo Verde. (Isto antes do 25 de Abril 1974). Claro para uns é irrelevante mas por outro lado revela que apesar de tudo (chamados fantoches ou não) eram vistos com alguma dignidade pelo regime. E naquele tempo a densidade demográfica de negros/mestiços em Portugal era mínima ao contrário de hoje que em algumas artérias das cidades de Portugal não se pode circular 15 minutos sem se cruzar com um negro/mestiço.
(…)

Curioso como o autor salienta, no segundo parágrafo acima citado, a questão da ligação sanguínea como argumento como que a reforçar o direito à cidadania… e todavia queixa-se por os negros serem discriminados em Portugal. Ou seja, queria dar a lição de moral racista mas não reparou que logo ao princípio se tinha contradito…
De resto, a lição de moral nem é lição alguma nem tampouco é uma moral digna de ter em conta. Apenas a chantagem emocional-racial, a querer apelar ao sentimento de culpa «racista» do branco, aproveitando-se dessa patente fragilidade do actual edifício político-ideológico dominante na Europa para aí tentar exercer um efeito de cunha a favor dos seus… isto na melhor das hipóteses. Como instrumento dessa chantagem emocional, não tem pudor em usar os «argumentos» mais rascas e descarados, os mesmos que, de resto, são usados pela elite reinante no Ocidente para desarmar os Ocidentais na sua própria terra – a alegação de que a desproporcional taxa de reclusos negros se deve ao racismo da parte dos tribunais.
Ou seja - os Europeus têm de arcar com a criminalidade negróide, que lhes inferniza tantas vezes o quotidiano… e, para cúmulo do sadismo, ou do masoquismo, ainda têm de ser considerados culpados por prenderem quem os agride e os rouba. A certa altura, dir-se-ia que o que era preciso era que os políciais brancos fossem deixando escapar uns quantos meliantes negros, assim de quando em vez, só para o cidadão branco tolhido pelo anti-racismo (felizmente, em escassa quantidade, apesar das sessões incessantes de lavagem cerebral anti-racista) ficar de consciência mais tranquila…
Acresce que, além de moralmente abjecta, a alegação é igualmente ridícula de tão inverosímil, porquanto é sabido que os tribunais são precisamente dos mais fortes viveiros da ideologia politicamente correcta, multiculturalista, anti-racista, pelo que não é crível, para quem saiba ao menos o mínimo da sociedade em que vive, que os arguidos negros sejam julgados com mais severidade pelo mesmo crime que os arguidos brancos.
Quanto à queixa pela discriminação ao nível universitário, é um verdadeiro vómito, chega a revoltar, para quem sabe que os negros vindos de África gozam afinal de acesso directo à universidade, mesmo sem terem para tal as devidas qualificações,o que significa que tiram lugar aos indígenas.E ainda se queixa o autor de que os Portugueses não querem saber dos «seus» negros e mestiços… pudera. Portugal nada, mas mesmo nada de jeito tem a ganhar com esta gente.
E isto leva à magna questão, que se põe logo à cabeça: será verdade que dez por cento da população portuguesa é alienígena? Pessoalmente, não acredito muito. Mas nunca fiando - o que está em causa é demasiado precioso para que possa haver qualquer tipo de laxismo, pelo que, em cometendo erro de zelo, antes por excesso que por defeito: quando há sequer uma possibilidade de a Estirpe estar em sério risco de se perder, nada é demasiado rigoroso e extremado para a defender. A possibilidade de que Portugal possa ter já no seu território um milhão de não europeus justifica só por si que os Nacionalistas apertem o passo e marchem com mais determinação para fazer o que for preciso em nome da Grei.

Pacto Molotov-Ribbentrop

por A-24, em 15.05.10

O Pacto Molotov-Ribbentrop, também referido como Tratado Molotov-Ribbentrop, Pacto Nazi-Soviético, Tratado Nazi-Soviético, Pacto Hitler-Stalin, Pacto Ribbentrop-Molotov, Pacto Germano-Soviético, ou simplesmente Tratado de não-agressão Germano-Soviético, foi um tratado de não-agressão firmado às vésperas da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), entre a Alemanha Nazista e a União Soviética.

Antecedentes
O resultado da Primeira Guerra Mundial foi desastroso tanto para o Reich alemão como para a República Socialista Federativa Soviética. Durante o conflito, os bolcheviques lutavam pela sobrevivência, e Lenin não teve alternativa a não ser reconhecer a independência da Finlândia, da Estónia, da Letónia, da Lituânia e da Polónia. Além disso, diante do avanço militar alemão, Lenin e Trotsky foram forçados assinar o Tratado de Brest-Litovsk, que retirava o país da guerra mas cedia alguns territórios ocidentais da Rússia ao Império Alemão. Após o colapso da Alemanha, tropas da Grã-Bretanha, da França e do Império Japonês intervieram na Guerra Civil Russa.
Em 16 de abril de 1922, a Alemanha e a União Soviética ingressaram no Tratado de Rapallo, por cujos termos renunciavam às reivindicações territoriais e financeiras contra os demais. As partes se comprometeram ainda à neutralidade na eventualidade de um ataque de um contra um outro pelo Tratado de Berlim (1926).
No início da década de 1930, a ascensão do Partido Nazi ao poder na Alemanha, aumentou as tensões entre estes países, a União Soviética e outros países de etnia eslava, que foram considerados "Untermenschen" ("sub-humanos") de acordo com a ideologia racial nazi. Além disso, os nazistas, anti-semitas, associavam a etnia judia com o comunismo e com o capitalismo financeiro, aos quais se opunham. Por conseguinte, a liderança nazi declarou que os eslavos na União Soviética estavam a ser governados por "judeus bolcheviques".
Em 1936, a Alemanha e a Itália fascista, apoiaram os nacionalistas espanhóis na Guerra Civil Espanhola, enquanto os soviéticos apoiaram a parcialmente socialista Segunda República Espanhola, sob a liderança do presidente Manuel Azaña. Naquele mesmo ano, a Alemanha e o Império Japonês entraram no "Pacto Anti-Comintern", e a que se juntou, um ano depois, a Itália.

A feroz retórica anti-soviética de adolf Hitler foi uma das razões pelas quais a Grã-Bretanha e a França decidiram que a participação da União Soviética na Conferência de Munique, em 1938, acerca da Tchecoslováquia, seria perigosa e inútil. O Acordo de Munique, então assinado, marcou uma anexação parcial alemão da Tchecoslováquia no final de 1938, seguido da sua dissolução completa, em março de 1939, o que é visto como parte de um apaziguamento da Alemanha realizado pelos Gabinetes de Neville Chamberlain e Édouard Daladier. Esta política levantou de imediato a questão de saber se a União Soviética poderia evitar ser o próximo passo na lista de Hitler.
Nesse contexto, a liderança soviética acreditava que o Ocidente poderia querer incentivar a agressão alemã a Oriente, e que a Grã-Bretanha e a França poderiam ficar neutras no conflito iniciado pela Alemanha Nazi. Pelo lado da Alemanha, devido a que uma aliança com a Grã-Bretanha era impossível, tornava-se necessário estreitar relações mais estreitas com a União Soviética para a obtenção de matérias-primas. Além disso, um bloqueio naval britânico era esperado em caso de guerra, o que iria provocar uma escassez crítica de matérias-primas para o esforço de guerra da Alemanha. Depois do acordo de Munique, aumentaram as necessidades alemãs em termos de abastecimento militar, ao passo que, devido à implementação do terceiro plano quinquenal na URSS, eram essenciais investimentos maciços em tecnologia e equipamentos industriais.

Em 31 de março de 1939, em resposta ao desafio da Alemanha nazi do Acordo de Munique e da ocupação da Tchecoslováquia, a Grã-Bretanha garantiu o apoio da própria França para garantir a independência da Polónia, da Bélgica, da Romênia, da Grécia e da Turquia. Em 6 de Abril, a Polónia e a Grã-Bretanha concordaram em formalizar a garantia de uma aliança militar. Em 28 de abril, Hitler denunciou o Pacto de Não-Agressão Polaco-Alemão de 1934 e o Acordo Naval Anglo-Germânico de 1935.

O Tratado e suas consequências
Foi assinado em Moscou na madrugada de 24 de agosto de 1939 (mas datada de 23 de agosto) pelo então Ministro do Exterior Soviético Vyacheslav Molotov e pelo então Ministro do Exterior da Alemanha Nazista Joachim von Ribbentrop. Em linhas gerais estabelecia que ambas as nações se comprometiam a manter-se afastadas uma da outra em termos bélicos. Nenhuma nação favoreceria os inimigos da outra, nem tampouco invadiriam os seus respectivos territórios, além do que, a União Soviética não reagiria a uma agressão alemã à Polônia, e que, em contrapartida, a Alemanha apoiaria uma invasão soviética à Finlândia, entre outras concessões. De facto à invasão nazista seguiu-se a Invasão Soviética da Polónia e também da Finlândia ainda em 1939.
Em dois Protocolos secretos, os dois governos efectuaram a partilha dos territórios da Europa de Leste em zonas de influência, decidindo que a Polónia deveria deixar de existir (passando o seu território para a Alemanha e para a URSS), que a Lituânia ficaria sob alçada Alemã (meses mais tarde a Alemanha trocou a Lituânia por outra zonas de influência, ficando a Lituânia sob alçada soviética), que a Estónia e a Letónia passariam para a URSS bem como grande parte da Finlândia e vastas zonas da Roménia e da Bulgária.
O Pacto estabelecia também fortes relações comerciais, vitais para os dois países, nomeadamente petróleo soviético da zona do Cáucaso e trigo da Ucrânia, recebendo em contrapartida ajuda, equipamento militar alemão e ouro.
Este novo facto nas relações internacionais alarmou a comunidade das nações, não só porque os nazistas eram supostos inimigos dos comunistas, mas também porque, secretamente, objetivava a divisão dos estados da Finlândia, Estônia, Letônia, Lituânia, Polônia e Romênia segundo as esferas de interesses de ambas as partes. O pacto era absolutamente vital para ambos os países: para os alemães assegurava que se poderiam concentrar apenas na sua frente ocidental para além de terem assegurado combustíveis que de outro modo impossibilitariam tais operações. Do lado soviético, a paz e a ajuda militar eram fundamentais, tanto mais que as forças militares não estavam preparadas para qualquer grande combate, como se comprovou na mal sucedida aventura finlandesa de Novembro de 1939 (guerra de inverno).
O pacto durou até 22 de junho de 1941, quando a Alemanha, sem prévio aviso, iniciou a invasão do território soviético pela Operação Barbarossa.

A Madeira pode ser independente?

por A-24, em 15.05.10
Alberto João Jardim já comparou a Madeira a uma prostituta de luxo. "Se a querem, têm de pagar bem". A ameaça separatista é ciclicamente retomada em momentos de aflição financeira e de negociação orçamental ou constitucional. A "menina" 
de Jardim pode declarar-se independente?
Por Tolentino de Nóbrega, no Funchal

"A Madeira pode ser independente, sem o Estado português", disse há quase um ano o presidente do governo regional, Alberto João Jardim, numa das suas raras presenças no parlamento madeirense. "Isto já deu o que tinha a dar em termos de articulação com Lisboa", afirmou nesse discurso dedicado à discussão do actual programa de governo.
É possível a Madeira ser independente, como ameaça Alberto João Jardim, sempre em momentos de crise ou de discussão orçamental? Olhámos para os argumentos e estudos produzidos ao longo dos anos e falámos com especialistas para testar a viabilidade do arquipélago como país independente. 
Com a ameaça da independência, Jardim rejeita o princípio da unidade do Estado em termos territoriais. A independência da Madeira "é uma coisa que não faz sentido nenhum em termos jurídico-constitucionais", afirma o constitucionalista Jorge Reis Novais, professor da Faculdade de Direito de Lisboa. "Só com uma revolução e uma nova constituição. Só com uma revisão constitucional não é possível."
Mas mudam os tempos e os governos na República e mudam também as propostas de Alberto João Jardim para o arquipélago. Se recuarmos até 1974, quatro anos antes da chegada de Jardim à chefia do governo autónomo da região, Jardim opôs-se à ideia de independência e considerou-a mesmo disparatada. "Tentar separar a Madeira do todo nacional, para além de ridículo, constitui uma machadada grave na consciência do país. E significa abandonar esta minúscula porção de terra a ambições vorazes e estranhas, das quais não nos saberíamos, nem nos poderíamos, defender", escreveu no Jornal da Madeira a 30 de Outubro desse ano. 
É com a chegada de Jardim ao poder, a 17 de Março de 1978, que pára a onda de atentados bombistas realizados pela Frente de Libertação da Madeira (Flama) desde o "Verão quente" de 1975, contra bens do Estado e automóveis de personalidades madeirenses conotadas com partidos de esquerda. Para o governante, como então disse aos membros do directório deste movimento separatista, era chegado o momento de apostar no reforço e consolidação do novo processo autonómico facultado pela nova Constituição da República.
Há mais de três décadas no poder, entre intermitentes declarações de portuguesismo, o chefe de uma das duas únicas regiões autónomas do país tem defendido a constituição da Madeira como estado federado ou mesmo independente e até sonha em transformar a ilha numa "Singapura no Atlântico", com o seu sistema fiscal especial capaz de atrair investimento externo.
Esta última proposta, defendeu-a em Maio de 2004, no encerramento do X Congresso regional do PSD-M. Na presença de Durão Barroso, a chantagem tinha também como destino Bruxelas, para onde rumaria, meses depois, o então presidente dos sociais-democratas. Se em 2008 a União Europeia não arranjasse medidas específicas de apoio às regiões ultraperiféricas como a Madeira, a região poderia ter de encontrar "estatutos diferentes, como existe em Inglaterra em relação às ilhas do Canal ou na Dinamarca quanto às ilhas Feroé", avisou. 
Ameaça semelhante fez a Lisboa caso não vingasse o seu projecto de revisão constitucional para 2009 (que ainda não foi desencadeado pela Assembleia da República), exigindo o princípio de unidade diferenciada das autonomias, com graus e modelos diferentes para a Madeira e os Açores e com aumento de competências em termos legislativos. "Temos que nos ver livres dos que a tal obstarem", advertiu Jardim em Junho de 2007.
Mais claro, em Novembro de 2007, no Parlamento, foi o deputado social-democrata Gabriel Drumond, assumido membro da Flama e presidente da sua sucedânea Fórum da Autonomia da Madeira (Fama), criada por dirigentes do PSD e do CDS, incluindo o próprio presidente do governo regional, com o objectivo de combater o "colonialismo" de Lisboa. Se a próxima revisão constitucional "falhar, devemos declarar unilateralmente a independência na assembleia regional", disse então aquele deputado. E se falhar a culpa é do primeiro-ministro, José Sócrates, que "nos trata brutalmente, rouba-nos e nos trata à sapatada", e do Presidente da República, Cavaco Silva, que "também tem culpa nisto" porque não vetou a Lei das Finanças Regionais, que "sufoca o povo da Madeira". 
De facto, só em parte Cavaco Silva (quando como primeiro-ministro tentou travar o despesismo madeirense, invocado para posicionar-se contra a regionalização no continente) e agora o chefe do governo José Sócrates (ao clarificar, no âmbito do saneamento das contas públicas, o relacionamento entre o Estado e as regiões autónomas na nova lei das finanças) resistiram à chantagem de Jardim, que tem beneficiado da complacência da generalidade dos titulares dos órgãos de soberania. 
As sondagens
As duas mais recentes sondagens que abordam o tema da independência revelam que a Madeira deve ser o único território no mundo onde o apoio à independência dos habitantes locais é menor do que no país em geral. 
No estudo de opinião feito pela Marktest para o DN e TSF, em Novembro de 2006, apenas no continente, a maioria dos portugueses participantes (59,2%) mostra-se contra uma possível independência da Madeira, que é admitida por 23,5 por cento, com uma esmagadora maioria (60,1%) a afirmar igualmente o seu apoio à decisão de Sócrates de reduzir os apoios a esta região. 
Em Fevereiro de 2008, um estudo da Eurosondagem (para a RR, SIC e Expresso) revelou que, ao contrário do que políticos locais apregoam, os madeirenses não querem a independência, nem acreditam em discursos a apelar ao separatismo. À pergunta "A Madeira deve ser independente?", 72,2 por cento dos madeirenses inquiridos responderam "não", enquanto apenas 10 por cento deram resposta positiva.
Jardim desvalorizou, no seu tom peculiar, a sondagem em que os portugueses apoiam o corte de verbas à Madeira, por ter atingido, com a solidariedade nacional e europeia, um PIB superior à média portuguesa: "Há 60 por cento de tipos que querem ser proprietários da Madeira, mas que não querem gastar dinheiro com esta região. Há um nome feio que se chama a esses senhores..." 
O referendo 
A realização de um referendo nacional sobre a independência foi mesmo o que defendeu o jornalista madeirense Vicente Jorge Silva na sua passagem como deputado pela Assembleia da República, a propósito da revisão constitucional. Era uma forma de "ver, com toda a clareza, que o rei vai nu, duplamente nu" e que "o fantasma do separatismo agitado por ele [Jardim] poderia tornar-se um espantalho esfarrapado". O presidente do governo regional "sabe perfeitamente que a maioria esmagadora da população madeirense, confrontada com o momento da verdade, rejeitará o aventureirismo suicida de uma independência para a qual ele não terá respostas políticas, económicas e institucionais com qualquer viabilidade. Ele sabe que o referendo não lhe deixaria nenhuma margem de manobra para continuar a chantagear quem lhe fornece créditos a fundo perdido, utilizados para alimentar a corte e o sistema mafioso que imperam na região". 
Mas não é apenas Jardim e quem o rodeia que sabem isso, adianta Vicente Jorge Silva. "Sabem-no - tinham obrigação de sabê-lo - todos os que, em Lisboa, se dispuseram a pagar os sucessivos resgates por ele exigidos em troca do modus vivendi ilusório, mas que, aparentemente, seria mais barato aos cofres do Estado e dos fundos comunitários do que os custos de uma prolongada situação de instabilidade e conflito com o caudilho da Madeira", comenta. O ex-director do PÚBLICO acusa ainda o Estado de abdicar das funções de assegurar as mais elementares regras de equidade e democraticidade neste arquipélago e denuncia "a dupla personalidade do pequeno caudilho madeirense", dividido entre "a manifestação mais militante de portugalidade e espírito patriótico" e "as ameaças mais ou menos ostensivas de vontade guerreira contra o colonialismo português". 
Outro dos argumentos que Jardim usa constantemente é que a dívida deve ser vista numa perspectiva histórica e que o continente só está a pagar agora o que muito recebeu. Nomeou mesmo uma comissão em 2002, constituída por directores regionais e deputados do PSD, para investigar O Deve e o Haver - As Finanças Públicas e Privadas na História da Madeira. Proclamou-se contra os "500 anos de extorsão e roubo", num discurso a 21 de Agosto de 2008, em que também disse que não gostaria de ver a Madeira independente: "Sinto-me bem sendo português, tenho orgulho em ser português. (...) Mas se o povo madeirense um dia quiser a independência, o meu lugar é ao lado do povo madeirense", proclamou na cidade do Funchal.
Antecipando ao P2 a conclusão do estudo, que nunca chegou a ser apresentado, o seu coordenador, Alberto Vieira, investigador do Centro de Estudos de História do Atlântico (CEHA), sublinha que "o passado foi pautado por uma forte participação financeira da ilha nas finanças do Estado". 
Perante esta "posição solidária" da Madeira no passado, o historiador argumenta que seria legítimo "esperar por idêntica atitude da mãe-pátria na presente recuperação do subdesenvolvimento a que nos sujeitaram". Hoje, diz Vieira, "somos nós que recorremos ao Velho Continente a reivindicar a cobrança dos 'empréstimos', mas no passado a coroa recorria às receitas madeirenses para colmatar o incessante défice das finanças públicas". 
Na estimativa do historiador, nos "500 anos de domínio continental e de controlo absoluto das receitas fiscais produzidas na região", o Estado investiu na ilha "apenas um quarto da receita arrecadada na Madeira". 
Auto-suficiente em 2006?
Mas, segundo as conclusões de Vieira, a Madeira poderia ter sido "auto-suficiente em relação o Estado português" em 2006, no final do III Quadro Comunitário de Apoio e com os investimentos em curso. Visão oposta têm outros economistas, como o deputado do PS Carlos Pereira, que, ao analisar a "frágil" economia regional, traça um cenário "pouco sustentável", resultado de políticas económicas que considera erradas e por dependências difíceis de ultrapassar. O PIB regional, empolado em 21% pelas imputações anómalas das actividades da Zona Franca, não é sinónimo de desenvolvimento humano, frisa. A Madeira, lembra ainda, tem o pior índice de conforto do país e o quarto resultado (em sete regiões) em termos de rendimento das famílias, de acordo com o inquérito às famílias do Instituto Nacional de Estatística (INE). É a região com maior índice de pobreza, segundo o último estudo do Banco de Portugal, e tem os piores resultados na educação, designadamente na taxa de analfabetismo, abandono escolar e ranking do secundário, apresentando também indicadores medíocres no quadro da adaptação a uma sociedade do conhecimento. Assim, "fica claro que PIB elevado não é sinónimo de desenvolvimento humano", explica o economista. 
"Dificilmente a Madeira poderá ser independente", afirma o economista. E enumera os problemas: "Dependência excessiva" do turismo, o único sector que cria riqueza, peso excessivo do sector público na economia, um crescimento económico assente em obras públicas "de prioridade e utilidade duvidosa" e, ainda, dependência exagerada de recursos externos para promover o crescimento. Entre os obstáculos "inultrapassáveis", Carlos Pereira destaca a dependência de recursos externos e o défice externo, onde a taxa de cobertura das exportações é apenas de 15 por cento, enquanto nos Açores ronda os 45.
A dívida já ultrapassa os cinco mil milhões de euros (aproximadamente o preço do futuro aeroporto de Lisboa), muito acima do PIB, que ronda os 4,2 mil milhões, e é crescente em todas as suas componentes - directa, indirecta, do sector público empresarial e outros passivos financeiros efectuados por engenharias de vária ordem. 
Se fosse independente, teria, para sustentar estes défices, de negociar com Bruxelas a manutenção dos apoios, diz o economista. Teria ainda de aumentar impostos para financiar o desenvolvimento, porque as receitas próprias hoje correspondem a cerca de 65 a 70 por cento das necessidades, acrescenta. E teria de deixar de beneficiar de um conjunto de apoios: saúde, segurança social, incluindo reformas não-contributivas e subsídio de desemprego, forças armadas e de segurança, justiça, subsídio de mobilidade, convergência tarifária da electricidade, entre outros. Estes encargos, estimados em 300 milhões de euros, não contabilizados na Lei das Finanças Regionais, são assumidos pelo Estado, que anualmente transfere do seu Orçamento para esta região mais de 200 milhões de euros, a título de custos de insularidade, e para as autarquias cerca de 70 milhões. Refira-se que, ao contrário das comunidades autónomas de Espanha, que arrecadam metade dos impostos cobrados no respectivo território e têm ainda de comparticipar nas despesas de soberania, as regiões portuguesas dos Açores e da Madeira, sem estes encargos, arrecadam a totalidade das receitas fiscais nelas geradas.
Feitas as contas, "a independência não é impossível, mas obrigaria a uma descida no nível de bem-estar dos madeirenses". Ou seja, "mantendo o mesmo bem-estar, é impossível sustentar um modelo de desenvolvimento em independência", conclui Pereira.
Dependência elevada
O Observatório do III Quadro Comunitário de Apoio divulgou em 2006 um relatório que confirma "o elevado grau da dependência do exterior" que ainda caracteriza a estrutura económica madeirense (na mesma altura a assembleia legislativa regional aprovava uma deliberação a encomendar um estudo para saber se a Madeira era ou não autoviável, um pedido de Jardim formulado no congresso do PSD-M). 
Sob a coordenação do ex-ministro da Economia Augusto Mateus, a equipa de 17 técnicos incumbida de estudar o país no que toca à competitividade e à coesão económica, desde a década de 90 até ao início do segundo milénio, regista que esta "pequena região insular" depende, "quase exclusivamente, do transporte marítimo (e também aéreo) para as suas trocas comerciais e, mais especificamente, para o seu aprovisionamento em produtos de primeira necessidade". 
Esta situação faz da Madeira, frisa o relatório, uma região "forçosamente influenciada por factores externos", que se revelam como "constrangimentos ao seu desenvolvimento". Este quadro de "fragilidades" é responsável por uma especialização produtiva "muito vulnerável e pouco diversificada", acrescenta o estudo, que enumera algumas dificuldades conhecidas ao nível dos sectores primário e secundário e enfatiza a importância do turismo, igualmente dependente do exterior.
O tecido empresarial é constituído por empresas de "muito pequena dimensão", que enfrentam dificuldades no domínio da competitividade, que geram fracos rendimentos e estão muito ligadas a actividades tradicionais. Além disso, a Madeira constitui um mercado cuja "capacidade produtiva não possui massa crítica suficiente para revelar alguma dimensão exportadora", optando por apostar essencialmente na produção de flores, banana, vinho, bordados e artefactos em vime.
Em termos gerais, a região debate-se com "insuficiências ao nível da qualificação dos recursos humanos", o que faz aumentar a distância com os níveis de rendimentos europeus. Revela uma estrutura global de níveis de habilitações da população residente e empregada "bastante desfavorável no espaço nacional e europeu", sendo o "défice de instrução e de formação" apontado como "um dos problemas mais graves". E ao nível da coesão, sublinha o estudo, aponta "assimetrias no desenvolvimento do território" que se traduzem em deficiências, debilidades e carências, problemas identificados como potenciais focos de exclusão. 
Estes dados não impedem, porém, a região de ter registado, em 2001, o terceiro rendimento médio per capita mais elevado do país, logo a seguir a Lisboa e Vale do Tejo e ao Algarve, o que, inflacionado pela Zona Franca, fez perder 500 milhões de euros de fundos comunitários, por ter deixado de ser considerada região de Objectivo 1, em termos da convergência europeia. No período 2000-2006, a UE tinha concedido à Madeira 623 milhões de euros. Nesses seis anos, o Orçamento do Estado transferiu para esta região 1323 milhões, a título de custos de insularidade e do Fundo de Coesão, não incluindo apoios do PIDDAC; INGA, IFADAP; Instituto do Desporto e Segurança Social. 
Faceta de ilhéu
A toda esta dependência económica, o historiador António Marques da Silva associa as razões históricas e culturais para relevar que a Madeira sempre foi o prolongamento de Portugal. O ex-director regional dos Assuntos Culturais, fundamentado nas obras de modernos investigadores madeirenses que incidem sobre os séculos XV e XVI, caracteriza o madeirense como "português com qualidades e defeitos, de individualidade própria, esforçado trabalhador, sempre aberto a novos mundos e detentor de uma cultura paralela à da Pátria que fica do outro lado do oceano". Esta faceta de ilhéu, conclui, "justifica a autonomia, mas de modo nenhum legitima o corte definitivo com o Portugal do continente, nem uma autonomia insensata sempre vibrantemente progressiva e sem fim, conforme a tola propaganda do partido dominante". Essa pretensa autonomia, adverte o historiador, "poderá desembocar numa injusta e mais que problemática situação de independência".

"O primeiro presidente do Havai"

por A-24, em 01.05.10

Barack Obama será mesmo o 44º Presidente dos Estados Unidos da América? Convencionou-se dizer e escrever que sim. Mas nem todos concordam. Porque este histórico elenco de 44 inquilinos da Casa Branca tem um repetente: Grover Cleveland foi presidente no quadriénio 1885-1889 e renovou a experiência entre 1893 e 1897. Em estrito rigor, não devia ter sido contabilizado duas vezes – era esta, por exemplo, a opinião de um dos seus mais prestigiados sucessores, Harry Truman. Quando alguém lhe chamava 33º presidente norte-americano, Truman corrigia sempre: “Sou o 32º” Lembrando-se do Grover Cleveland da sua infância, democrata dos quatro costados como ele.

Ao contrário do que sucede nos Estados Unidos da América, em Portugal não se costuma contabilizar por duas a presidência de Bernardino Machado, que teve um primeiro capítulo entre 1915 e 1917 (interrompido pelo golpe de Sidónio Pais) e um segundo e derradeiro capítulo entre 1925 e 1926 (interrompido pelo golpe de Gomes da Costa em 28 de Maio).
Quadragésimo-terceiro ou quadragésimo-quarto, Barack Hussein Obama é o primeiro ocupante da Casa Branca de ascendência africana e com um nome cheio de conotações islâmicas. Será também o primeiro natural do Havai, que só se tornou estado em 1959, dois anos antes de ele nascer, sob a presidência de Dwight David Eisenhower. É um motivo de natural orgulho para os havaianos, tanto mais queapenas 21 dos 50 estados norte-americanos foram até hoje berço de presidentes. E há até estados muito importantes, como o Michigan ou a Florida, que nunca deram nenhum inquilino à Casa Branca.
Mais de metade dos 43 presidentes vieram só de quatro estados. Com vantagem para a Virgínia, o estado natal de oito chefes do poder executivo norte-americano (George Washington, Thomas Jefferson, James Madison, James Monroe, William Henry Harrison, John Tyler, Zachary Taylor e Woodrow Wilson). Segue-se muito de perto o Ohio, com sete (Ulysses Grant, Rutherford Hayes, James Garfield, Benjamin Harrison, William McKinley, William Howard Taft e Warren Harding). Quatro vieram de Nova Iorque (Martin Van Buren, Millard Fillmore, Theodore e Franklin Roosevelt) e outros quatro de Massachusetts (John Adams, John Quincy Adams, John Fitzgerald Kennedy e George Herbert Bush).
Foi preciso esperar quase duzentos anos para haver um presidente natural do Texas (Eisenhower, seguindo-se pouco depois Lyndon Baines Johnson) e outro da Califórnia (Richard Nixon). E o Illinois só forneceu um presidente à entrada do terceiro século de independência norte-americana: Ronald Reagan, eleito em 1980.
Outros estados que foram berço de presidentes: Vermont, Carolina do Norte (ambos com dois),Carolina do Sul, New Hampshire, Nova Jérsia, Iowa, Missuri, Arcansas, Georgia, Nebrasca, Pensilvânia e Connecticut (um cada).
Kentucky também só foi estado natal de um presidente. Mas pode orgulhar-se de que esse presidente é hoje considerado o melhor de todos os tempos nos Estados Unidos: Abraham Lincoln (que ocupou a Casa Branca desde 1861 até ser assassinado em 1865). Sem ele, o mais firme e consequente defensor da cidadania negra na pátria de Washington e Jefferson, talvez um afro-americano de origem humilde e nome árabe, como Barack Hussein Obama, não estivesse hoje onde está.

in Delito de Opinião (Janeiro/2009)