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A-24

Intelectuais árabes criticam “espantalho do islamismo”

por A-24, em 10.01.10
Esta questão tem vindo a ser colocada por inúmeros intelectuais árabes, e foi repetida várias vezes num debate realizado em Bruxelas pelo Instituto de Estudos de Segurança da União Europeia (ISSEU) sobre o envolvimento dos europeus no processo de paz israelo-palestiniano e sobre a violência política no mundo árabe, mas que foi inevitavelmente dominado pelas revoluções de rua na Tunísia e Egipto.
“A Europa precisa de ir além do medo da mudança”, começou por afirmar Álvaro de Vasconcelos, director do ISSEU e promotor do debate, fustigando implicitamente a ideia de que os valores democráticos têm uma “excepção árabe” em nome da estabilidade na região. 
"Porque é que a mudança a Leste foi sinónimo de estabilidade e no Sul do Mediterrâneo representa a instabilidade?", interrogou-se, ecoando outras intervenções no mesmo sentido. Azzam Ajoub, professor da Universidade de Tunis, foi o mais veemente na crítica aos receios dos europeus face aos acontecimentos na Tunísia e no Egipto, considerando que resultam de um profundo desconhecimento, mesmo entre os intelectuais, sobre a realidade sociológica destes países. 
O “espantalho do islamismo”, que tem sido apresentado como justificação para a defesa da estabilidade da região, “é uma forma de [os europeus] continuarem a não nos ver, e é uma humilhação para nós”, criticou, defendendo que “a verdadeira garantia de estabilidade e de segurança passa por Estados democráticos”. 
Acima de tudo, Ajoub teme que a UE se contente em apoiar “pequenas mudanças” na Tunísia em nome da estabilidade, sublinhando que “o que os tunisinos querem é “verdadeiramente a democracia”. É por isso, defendeu, que os europeus deverão “fazer prova de antecipação e imaginação e dizer-nos que estão connosco até ao fim do processo”. “Precisamos de ser acompanhados e apoiados e que a UE apoie uma verdadeira mudança”, defendeu.
O professor tunisino acredita que tanto os seus compatriotas como os egípcios que se batem pela democracia não deixarão que a sua revolução seja “confiscada” pelos islamistas. De todos os modos, frisou, os islamistas fazem parte do equilíbrio sociológico destes países e há “uma franja” pronta para jogar o jogo democrático. “São partidos políticos, não podemos impedir que uma corrente conservadora tenha uma referência ao Islão”, afirmou, traçando um paralelo com os democratas-cristãos na Europa. Apesar disso, Ajoub reconheceu que os países árabes terão de ter um verdadeiro debate interno sobre “o papel do Islão” na sociedade.

Quanto menos se conhece, maior a tendência para recear

por A-24, em 10.01.10
Mais de metade dos eleitores suíços saiu de casa para votar há uma semana e a maioria, 57,5 por cento, disse "sim" à proibição de construir minaretes. Apesar de ser uma maioria confortável, este número não conta a história toda do "sim" suíço. Em 26 cantões, 22 votaram como a maioria e apenas quatro disseram "não" à proibição. O que estes números não dizem, por exemplo, é que três dos quatro minaretes que existem hoje na Suíça estão em três cantões onde o voto contra a proibição foi menos expressivo.Andreas Tunger-Zanetti, do Centro de Investigação em Religião da Universidade de Lucerna, lembra que "os quatro cantões da excepção têm mais conhecimento prático sobre viver com os muçulmanos". "Quanto menos uma população conhece muçulmanos verdadeiros, mais se inclina a acreditar em todo o tipo de histórias - verdadeiras ou não, eles não podem julgar, porque não sabem - sobre os muçulmanos em geral", diz.
O sociólogo Stefano Allievi nota a ironia dos três minaretes existentes em três dos quatro cantões que votaram contra a proibição, mas pensa que isso não quer simplesmente dizer "que, se os conhecemos, sabemos que eles não são perigosos". Mas admite: "Imagino que em Appenzell provavelmente nunca viram um muçulmano a não ser na televisão! "Tunger-Zanetti conclui que "pouco contacto com "muçulmanos reais" facilita concordar com a proibição aos minaretes" e escolhe como exemplo precisamente o pequeno cantão de Appenzell-Innerrhoden, caracterizado pela existência de "vacas, artesanato, turismo, catolicismo", onde a proposta passou com 71,4 por cento. Na verdade, há muçulmanos em Appenzell: 503 em 16.618 habitantes, 3,4 por cento, pouco abaixo da média nacional, de 4 por cento.
Mais importante do que o perfil sociodemográfico dos eleitores, sustenta Tunger-Zanetti, parece ser o ideológico. "Combinados, estes perfis, um efeito de mobilização forte e o conservadorismo explicam o resultado do "sim". Surpreendente é que as sondagens antes da votação não tenham antecipado estas tendências."
Para Allievi, coordenador do estudo Conflitos sobre Mesquitas na Europa, mais significativo do que perceber se os eleitores que votaram "sim" conheciam ou não muçulmanos, é confirmar que nas zonas onde os muçulmanos estão há mais tempo, "há mais políticas de integração, são regiões mais misturadas, com casamentos mistos, actividades culturais, debates". Onde não havia políticas de integração, porque quase não havia muçulmanos, era na Caríntia, que em 2008 se tornou na primeira região da Áustria - e da Europa - a proibir os minaretes. A força dextrema-direita de Jorg Haider foi aqui o factor determinante. A legislação chegou depois a Voralberg, uma das regiões austríacas com maior presença do islão. 

Sofia Lorena Dez.2009