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A-24

Só no ano passado emigraram 110 mil portugueses

por A-24, em 17.11.14
Saídas tendem a agravar-se em 2014, sendo que a crise acentuou o carácter europeu da emigração portuguesa. Saem mais homens do que mulheres e continuam a ser maioritariamente pouco escolarizados.Portugal é o país da Europa com mais emigrantes em percentagem da população 
MIGUEL MANSO


No ano passado, emigraram cerca de 110 mil portugueses. O número, retirado do relatório estatístico do Observatório da Emigração, confirma as previsões mais pessimistas dos especialistas que têm analisado a sangria demográfica do país. No ano anterior, em 2012, já tinham emigrado 95 mil. “O mais provável é que em 2014 este número volte a aumentar ligeiramente”, admite o investigador José Carlos Marques, do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra.

Porque o relatório mede as saídas dos portugueses com os dados sobre as entradas nos países estrangeiros de destino, José Carlos Marques admite que a realidade seja ainda mais dura: “Nem todos os portugueses que saem vão inscrever-se nos consulados dos países de destino”. Na caracterização dos portugueses que procuram trabalho lá fora, constata-se que 61% têm apenas a escolaridade básica, o que contraria a tese da “fuga de cérebros”.

Na medição do impacto da crise sobre os fluxos migratórios, o estudo constata que a emigração diminuiu no arranque da crise, mas voltou a crescer a partir de 2011. Entre 2007 e 2012, saíram do país, em média, 82,5 mil portugueses por ano, “mas em crescimento, oscilando entre 70 mil e 95 mil ao longo do período”, conforme se lê no relatório coordenado pelo investigador do ISCTE Rui Pena Pires, e encomendado pelo gabinete do secretário de Estado das Comunidades. Em meados deste ano, José Cesário já alertava para o crescimento número de “situações graves de isolamento e pobreza” entre os que emigram de Portugal.

Este relatório não faz esse tipo de avaliação. Mas mostra que a crise acentuou o carácter europeu da emigração portuguesa. Entre 1960 e 2010, “a percentagem de emigrantes portugueses a viver na Europa passou de 16% para 67%”, ou seja, “multiplicou por nove, passando de 165 mil para mais de milhão e meio”.

Mais recentemente, entre 2008 e 2012, a Europa foi o destino escolhido por 80 a 85% dos emigrantes portugueses. Para Angola e Moçambique terão ido cerca de 10 a 12% e apenas 1% para o Brasil. “Apesar da crise, ainda existem na Europa bolsas de emprego em alguns sectores específicos nos quais os portugueses têm alguma facilidade em se inserir”, explica José Carlos Marques, para apontar ainda o “factor proximidade” na escolha do destino. “É mais fácil ir e experimentar procurar emprego na Europa do que ir à aventura para Angola ou Brasil. E os custos envolvidos também são de natureza diferente”.

No mapa-mundo da emigração portuguesa, Reino Unido, Suíça e Espanha perfazem o conjunto dos principais novos destinos. O conjunto da população portuguesa emigrada nestes três países aumentou em cerca de 600% (contra um aumento de 68% para a generalidade dos países europeus). Mas com diferenças entre os países. O Reino Unido, que é hoje o principal destino da emigração portuguesa, registou em 2013 um aumento de 50% no número de novas chegadas, atraindo sobretudo os portugueses mais qualificados.

Já em Espanha a emigração portuguesa não diminuiu: colapsou. Após a crise financeira, a entrada de portugueses decresceu cerca de 80%. Em 2007, entraram 27.178 portugueses naquele país e, em 2013, apenas 5302. O decréscimo da emigração para Espanha resultou sobretudo da crise na construção. “O colapso de emigração portuguesa para Espanha foi, portanto, o colapso da emigração portuguesa mais desqualificada e precária, eventualmente com processos de remigração”.

Já o Brasil, Canadá e Estados Unidos, assim como a Venezuela, somam muitos emigrantes portugueses sim, mas envelhecidos e em declínio, já que as novas chegadas àqueles destinos são insuficientes para compensar a mortalidade e eventuais movimentos de retorno e reemigração. Os investigadores distinguem ainda um terceiro conjunto de países com grandes populações portuguesas emigradas envelhecidas mas em crescimento, devido à retoma dos fluxos: é o caso da Alemanha, França e Luxemburgo.
No global, os portugueses a residir fora de fronteiras rondam os 2,3 milhões. “Contando com os descendentes directos destes emigrantes, a população de origem portuguesa nos países de emigração ultrapassará os cinco milhões”, contabiliza o relatório.
Portugal é, no contexto europeu, o país com maior emigração. Os portugueses emigrados representam mais de um quinto (21%) da população residente. No reverso desta medalha, a imigração atira-nos para o fundo da tabela: os imigrantes representam menos de 6% da população residente, se excluirmos os retornados nascidos nas ex-colónias, e com tendência para decrescer.
Mais velhos e pouco qualificados
O relatório aponta os riscos de recessão populacional. Na viragem do século, a população portuguesa emigrada cresceu mais do que a população residente em Portugal: 18% contra 7%, respectivamente, entre 1990 e 2010.
Recorrendo a dados provisórios da OCDE, os autores do relatório constatam que na última década a emigração portuguesa tornou-se ligeiramente mais masculina, “tendo em conta que a população emigrada masculina aumentou mais (19%) do que a feminina (14%)”.Isto dever-se-á, admitem, “provavelmente ao grande crescimento de uma emigração para Espanha em que predominava a procura de trabalho pouco qualificado no sector da construção e obras públicas”. Quanto a idades, “os portugueses idosos residentes nos países da OCDE cresceram 80%, enquanto os adultos activos, dos 25 aos 64 anos, aumentaram apenas 10%, ou seja, “as novas entradas de portugueses em países da OCDE não foram suficientes para compensar o envelhecimento da população portuguesa aí emigrada”.
Entre os portugueses emigrados em 2010/11 mais de metade (61%) continua a ter apenas o nível básico de escolaridade. Os portugueses com o ensino superior a procurar trabalho lá fora representaram 10% do total naquele período, quando dez anos antes representavam 6%. Considerando que a percentagem de diplomados na população portuguesa passou de cerca de 8% em 2001 para quase 14% em 2011, ou seja, aumentou cerca de 80%, o relatório sublinha que “a qualificação da população portuguesa mantém-se superior à da população emigrada, pelo menos à que reside em países da OCDE”. Logo, “o aumento da qualificação daquela população emigrada é mais um resultado do aumento da qualificação portuguesa do que de uma maior incidência da emigração nos sectores qualificados”. Uma constatação que não surpreende José Carlos Marques: “É verdade que os emigrantes altamente qualificados são hoje mais do que no passado, mas exagerou-se no destaque dado à emigração qualificada, porque a nossa emigração continua a ser marcada pela saída de pessoas pouco ou nada escolarizadas, o que se compreende porque um dos sectores que mais sofreu com a crise em Portugal foi a construção civil”.

Principais destinos dos portugueses em 2013

Reino Unido
No ano passado, 30.121 portugueses foram trabalhar para o Reino Unido, mais 47% do que no ano anterior. Em 2007, ou seja, antes do início da crise, tinham entrado neste país 12.040 portugueses. No ano passado, os portugueses protagonizavam o quinto maior movimento de entrada de emigrantes no país, representando 5% do fluxo total. Em 2012, havia já 90 mil portugueses a residir no Reino Unido.

Suíça
Acolheu 14.388 emigrantes portugueses no ano passado. A emigração portuguesa representa, actualmente, o segundo maior fluxo de entradas no país, a seguir ao dos alemães. Em 2012, as entradas de portugueses representaram cerca de 12% do total de entradas de imigrantes na Suíça. Que continua a ser, a seguir à França, o segundo principal país de residência da população portuguesa emigrada, com 194.840 portugueses. Em 2012, os portugueses eram a segunda nacionalidade mais numerosa entre a emigração na Suíça (10% do número total de imigrantes)

Alemanha
Entraram no país liderado por Angela Merkel 11.401 portugueses, mais 26% do que no ano anterior. Em 2007, apenas 3.766 portugueses tinham escolhido este destino para trabalhar, sendo que a população portuguesa emigrada neste país era de 104.084 em 2013.

Espanha
Foi o destino escolhido por apenas 5.302 portugueses em 2013, contra os 27.178 registados em 2007, ou seja, antes da crise que se repercutiu desde logo no sector da construção civil. Em 2013, havia 134.248 portugueses a trabalhar em Espanha.

Luxemburgo
No ano passado, 4.590 escolheram este destino para trabalhar, representando cerca de 22% do total de entradas de imigrantes no Luxemburgo, país em que são portugueses 28% dos emigrantes. Em números absolutos, os números de 2011 mostravam que havia 60.897 portugueses a viver no Luxemburgo.

Brasil
Os registos apontam para 2.913 portugueses entrados em 2013. Apesar da diminuição do volume da emigração portuguesa desde a década de 1960, as saídas para este país aumentaram 96% em 2011, apesar de se manterem modestas em termos absolutos. No ano passado, os portugueses constituíam 5% da imigração total em 2013, representando 23% do total de residentes no país nascidos no estrangeiro: 137.913.

Para onde emigramos?

por A-24, em 23.06.14
Interessante site, onde se pode observar os comportamentos migratórios da maior parte dos países do mundo. Aqui ficam os dados de Portugal. 




Para consultar os dados de outros países: http://peoplemov.in/#f_MC


Emigrar para Los Angeles? Seis conselhos de quem já foi

por A-24, em 09.06.14
Via Dinheiro Vivo

Hollywood é o sonho americano para muitos, mas é difícil ter sucesso lá. Mais ainda na indústria do cinema, e não sendo Portugal reconhecido como uma fábrica de talentos da Sétima Arte. Daniela Ruah, atriz em NCIS: Los Angeles, e David Cabral, argumentista em Hollywood, dão conselhos sobre o que fazer se esse é o seu sonho.


1. Dar o salto
Pode parecer óbvio, mas a verdade é que não há muito que se possa fazer para vingar em Hollywood a partir de Portugal, salvo casos raros. "A primeira coisa é sair de Portugal e ir para lá, e uma vez que esteja lá, ver o que pode acontecer. Começar a conhecer o mercado, se calhar inscrever-se numa escola para se manter ocupado e ir conhecendo pessoas, porque o nosso meio passa-se muito à volta do networking", diz Daniela Ruah, em entrevista ao Dinheiro Vivo.

2. Manter-se fiel

3. Ir para uma escola
"A escola ajuda muito, dá-te o visto de estudante, a introdução aos Estados Unidos, permite que fiques cá. No final dão-te um ano para estagiares e trabalhar. A escola é uma boa base", aconselha David Cabral, que emigrou para a Califórnia em 2008 para tirar um mestrado na USC.

4. Procurar uma comunidade portuguesa
Em Los Angeles há poucos portugueses, mas em regiões como Boston ou Nova Jersey têm comunidades bastante fortes, o que pode ser fundamental no início. David Cabral admite que a sua adaptação foi muito difícil e teria sido mais rápida e fácil se tivesse tido o apoio de uma comunidade portuguesa na cidade.

5. Mudar de mentalidade
"Ao vir para os Estados Unidos, a mentalidade é o mais importante: não vir para cá a achar que fazemos assim em Portugal e fazemos bem. Vir com a ideia de aprender mais do que ensinar. Isto é muito diferente", sublinha David Cabral.

6. Aceitar a mudança
David Cabral está desde 2008 nos Estados Unidos e admite que é difícil deixar a família e os amigos, mas diz que tecnologias como o Skype tornam o processo muito mais fácil do que era há algumas décadas. "As pessoas quando vão emigrar não podem ficar a pensar na família que está atrás, no cozido à portuguesa que é uma maravilha, no bacalhau com natas. Tens que sair disso e perceber que hoje em dia, infelizmente, no mundo em que vivemos a vida é feita de rupturas mais do que de continuidades. São os tempos que estamos a viver, não significa que sejam os tempos ideais, mas é assim", sublinha o argumentista. "E vir para os Estados Unidos é isso mesmo. Todos estes grupos étnicos pensam assim. Alguém que vem para cá e é suíço ou francês não quer ser suíço nem francês: vem para cá para se tornar numa coisa diferente, para fazer uma ruptura, para se transformar. É isso um bocado a experiência americana. Esquece aquilo que se passou para trás, nós agora somos americanos."


Não podia ser mais diferente do que o que David Cabral encontrou em Portugal quando tentou seguir uma carreira como argumentista. "Basicamente há uma empresa, que tem a pouca ficção que se faz em Portugal. Fora desta empresa, é o deserto", diz o argumentista de 32 anos, em entrevista ao Dinheiro Vivo.

Depois de extensa formação na Europa, incluindo países como Dinamarca e Noruega, decidiu rumar à Califórnia para um mestrado numa das melhores escolas do mundo na área do cinema, na USC (University of Southern California) - onde Steven Spielberg tentou entrar duas vezes e foi rejeitado. David conseguiu à segunda tentativa. Foi em 2008.

"Não há muitos outros sítios no mundo onde eu possa fazer a minha profissão, que é a única coisa que sei fazer." Neste momento, trabalha como argumentista no programa sobre celebridades "Close Up", faz comédia e vários trabalhos de copywriting - em que ser poliglota ajuda. O passo seguinte é encontrar um bom agente, e o objetivo final é chegar a realizador. Gostaria de fazer drama, embora esteja a fazer comédia nesta altura, o que às vezes é estranho naquele mercado: "Há muito a ideia de que o humor é uma coisa terrivelmente americana. Ser português e fazer comédia aqui é estranho."

A adaptação a Los Angeles foi tudo menos fácil, mas a persistência acabou por dar frutos - e a qualidade também: David está nos Estados Unidos com visto de Artista Especial, garantido porque o governo americano reconheceu a sua formação e as suas capacidades como argumentista.

Não pondera voltar para Portugal. E lamenta que haja poucos portugueses naquela região, ao contrário de outras nos Estados Unidos, como Boston e New Jersey. "Aprendes a América da maneira difícil, e sem saber nada. Foi muito difícil adaptar-me aqui, e é um processo que ainda não acabou", reconhece. Continua a acompanhar o que se passa no país, de forma um pouco desconsolada. "Não acho que Portugal seja algo de que se deva sentir falta. Acho que se pode sentir falta de várias coisas em Portugal. Mas o país, na realidade, é uma coisa de que muitos poucos portugueses com certeza quererão sentir falta neste momento. Especialmente o Portugal dos últimos três anos."

"Nobody expects the spanish inquisition"

por A-24, em 31.03.14
João Quadros

Segundo uma reportagem do "Expresso", Luís da Silva Canedo, português de 53 anos, emigrante em França há mais de 30, é candidato à autarquia de Perpignan, pela Frente Nacional de Marine Le Pen. Isto é como a história do judeu neo-nazi ou dos deputados homossexuais que votam contra a co-adopção.



Segundo uma reportagem do "Expresso", Luís da Silva Canedo, português de 53 anos, emigrante em França há mais de 30, é candidato à autarquia de Perpignan, pela Frente Nacional de Marine Le Pen. Isto é como a história do judeu neo-nazi ou dos deputados homossexuais que votam contra a co-adopção.

O candidato português da FN diz que não vê qualquer inconveniente em concorrer por um partido que é contra os direitos de voto de cidadãos europeus nas eleições francesas. "Eu falei-lhes nisso quando as listas foram elaboradas, mas tudo na FN está em mudança e essa posição vai mudar", diz Luís Canedo, que está em França a trabalhar como anjinho, presumo eu. Portanto, o Luís vai fazer campanha, e votar, num partido que, se ganhar, prometeu que lhe tirava o direito de votar, mas não tem importância porque eles lhe disseram que não vão cumprir o que prometeram. É isso, Luís. Na pior das hipóteses, vai haver uma votação em que ele já não participa. E, neste caso, não podemos levar a mal que isso aconteça. Lembrem-me de gritar - Canedo! - três vezes sempre que alguém falar da problemática da emigração e da fuga de cérebros.

Luís, que nunca pediu a nacionalidade francesa (sabia lá que vinham aí esses malucos do Le Pen), diz que aceitou participar na lista "porque a cidade está a ser invadida por árabes, o islamismo está a destruir as nossas convicções católicas." Está visto que o Senhor Canedo é facilmente influenciável. Os da Le Pen convencem-no a votar contra si próprio. E agora, o islamismo, só por si, está a destruir as "convicções católicas" do pobre Luís: "Vê-se que eles rezam muito mais que nós, estamos em clara desvantagem. Aquilo das setenta e tal virgens, em vez de um paraíso com almas, que eu nunca percebi bem o que era, não sei, não." Não lhe mostrem o hinduísmo que ele passa-se.

Diz Luís Canedo de Gaia: "A nossa cidade (Perpignan) está a ser invadida por árabes. Em certas cidades francesas, há mais mesquitas do que igrejas." Isto é a Gaiola Dourada em versão Leni Riefenstahl.

O que o Canedo não sabe, nem desconfia, é que ao mesmo tempo, o candidato Mohamed Gairban da FN (prometeram-lhe que não ia cumprir a promessa de retirar voto a cidadãos não nascidos em França) diz: "Isto está cheio de tugas. Gente que nem de ex-províncias francesas veio. O meu avô nasceu na Argélia e diz que qualquer dia temos portugueses na selecção francesa. Imagine que, em certas cidades francesas, há mais camisolas do CR7 que do Karim Benzema."

Luís está convencido de que Marine Le Pen é uma moderada. "Ela não tem nada que ver com o pai, esse sim é contra a presença de europeus nas listas da Frente Nacional" - esse racista! E acrescenta: "Eu já fui socialista, mas eles desiludiram-me..."... foram incapazes de apostar na xenofobia.

Luís termina dizendo : "É preciso um grande sobressalto em França e na Europa, é preciso que a FN ganhe pelo menos uma vez em França para toda a gente se dar conta que tudo tem de mudar." Aqui o Luís é capaz de ter razão. Se a FN tiver um grande resultado nas eleições europeias, isto é capaz de abanar. Homem para homem não deu, vai ser uma mulher a assustar a Merkel.

A grande fraude da dívida

por A-24, em 29.03.14
Raquel Varela

Disse há poucos dias, num programa de TV, sobre a dívida pública, que quem produz 100 não pode pagar 130. Houve quem contestasse, dizendo que se pode. Mas é evidente que se pode. Aliás, até podemos pagar 140 ou 150. A questão é: como?

O património privado foi efectivamente desvalorizado na crise de 2008 – chama-se a isso correr riscos. Se os portugueses tivessem poupado em vez de consumido, tinham visto as suas poupanças desvalorizadas, porque foi isso que aconteceu: a desvalorização real da propriedade privada. Mas os novos “empresários” não correm riscos: chamaram o Estado e pediram ao Estado para assumir essas perdas. E o Estado disse que sim, emitiu dívida, que passou de 70% para 130% do PIB. E para pagar essa emissão de divida destruiu os salários e as pensões e colocou à venda o património público realmente rico e valorizado (privatizações). A dívida pública é isto: um negócio privado que faliu, cujos lucros nunca foram públicos, mas os prejuízos, esses, foram imediatamente socializados – uma espécie de “comunismo só para os ricos”, como alguém jocosamente lhe chamou.

Antes do «como?», vamos esclarecer alguns passos indiscutíveis: há três obras publicadas em Portugal – cujos estudos jamais foram contestados por alguém – que explicam, com detalhe (incluindo despesas de pessoal e até compra de papel ou agrafos!), que os portugueses pagam todo o Estado social e que a dívida dever ser alocada às mais-valias imobiliárias, aos negócios da banca e às PPPs. O nosso livro Quem Paga o Estado Social em Portugal?, o livro de Carlos Moreno sobre as PPP (Como o Estado Gasta o Nosso Dinheiro), o livro de Paulo Morais sobre a crise (Da Corrupção à Crise. Que Fazer?) e o estudo, também notável, de Pedro Bingre do Amaral sobre as mais-valias imobiliárias, provam que a dívida é um negócio privado cuja essência não diz respeito aos gastos da grande maioria dos portugueses. Se a comunicação social dá 10 minutos de tempo de antena a estes trabalhos, mas faz ouvir 12 horas comentadores que não avançam um único facto, um único argumento sólido, e têm um CV que se resume a escreverem em blogues e colunas de opinião, não invalida o mais simples facto: uma mentira mil vezes repetida não passa a ser verdade.

A maioria dos portugueses não deve nada ao Estado, suporta todas as funções sociais, é responsável pelo pagamento de 75% de todos os impostos e é, por isso, legítima credora do Estado: o Estado deve-lhes os salários, as reformas, a educação de qualidade, saúde digna, cultura e lazer.

Vamos agora ao «como?».

Se assumíssemos uma taxa de crescimento de 2% e um juro real da dívida de 3,7% (o que é um cenário optimista) e pressupondo que a dívida se manteria nos 128% (ou seja, nem sequer a abatíamos), então o saldo primário teria de ser de cerca de 2% do PIB. Isso implica que o Estado teria que gastar menos do que o que arrecada, no equivalente a 2% do PIB, ainda que depois de pagar os juros se registe défice (o Estado prevê gastar o equivalente a 4,4% do PIB em juros da dívida em 2014). Claro que criámos um cenário fantasioso para demonstrar que, mesmo em condições optimistas de crescimento, este estaria longe de ser para todos. Essa é, portanto, a fórmula para, na melhor das hipóteses, perpetuar o inferno dos trabalhadores e pensionistas portugueses. Enquanto se puder esvaziar os bolsos dos portugueses e o património público, a dívida é pagável.

O problema não acaba aqui, porém. Estes senhores, para quem a história não existe, olvidam que, por volta de 2009, a crise económica mundial acabou nos países mais ricos, e esquecem que, desde os anos 20 do século XIX, os choques cíclicos ocorrem com períodos de cerca de 6/7 anos. Isto é, daqui a pouco tempo estaremos a assistir a outra crise. Até lá, ou o BCE consegue aumentar a taxa de juros de referência de forma sustentada para níveis do período anterior à última crise, o que fará que os juros da dívida portuguesa subam ainda mais, ou entraremos na próxima crise sem mecanismos de política contra-cíclica, ou seja, sem a possibilidade de baixar a taxa de juros para criar liquidez e “dinamizar a economia”. Numa economia voltada para exportações, isto significa a paralisia generalizada. É fácil de perceber que, para os trabalhadores portugueses, qualquer que seja a política do BCE é sempre um inferno a somar a outro inferno.

Podemos, em alternativa, suspender a dívida pública e colocar sob controle público o sistema bancário e financeiro, deixando os riscos e os prejuízos a quem fez os negócios. É arriscado? Claro que sim, mas é mais arriscado manter esta política que vai rebentar em menos de uma década com o país, incluindo com os jovens empreendedores que a defendem, porque a política de exportações não sobreviverá à próxima crise cíclica.

Podemos reconverter Portugal à indústria de guerra, transformar a Auto-Europa em fábrica de tanques e 1 milhão e 400 mil desempregados em soldados, e então pagamos 160, 170, o que for necessário. É ver a dívida dos EUA, que a nenhum empresário incomoda porque está assente na maior indústria de guerra da história: os EUA saíram da crise em 2009 com metade da produção da IBM, General Electric e Boeing a ser dedicada, directa ou indirectamente (bombas, electrónica ou capas de sofás de aviões) à guerra. Não podemos esquecer que o sonho do crescimento em Portugal – que chegou a taxas de 7% e mais – foi entre 1960 e 1973. Tirando alguns pormenores – expulsaram-se milhares de camponeses do campo para a cidade, produziu-se material bélico e fez-se uma guerra contra os povos de África durante 13 anos, expulsou-se 1 milhão e meio de pessoas, forçando-as à emigração, mas aguardando as remessas de divisas que sobravam, mesmo que dormissem rodeados de ratos em bairros de lata. Assim, claro que podemos pagar!

Até podemos pagar mais, sobretudo enquanto jovens sem qualquer conhecimento sobre a economia ou a sociedade continuarem a ser a tropa de choque, acarinhada, de um sistema que, desde 2008, tem espalhado a miséria como panfletos que caem do céu, explicando, no meio de uma guerra, que «está tudo bem, estamos a vencer».

Fernando Tordo has left the building...

por A-24, em 26.02.14
Fernando Ribeiro

Ando há vinte e um anos a trabalhar no duro com uma banda. Fazemos tours, non stop, desde 1995. Gerámos dinheiro sim, somos criativos e temos público, actualidade e pertinência. Felizmente. Trabalhamos para isso. Nunca mas nunca tive um estilo de vida e as posses que muitos artistas Portugueses tiveram e continuam a ter. Eu sei, já fui à casa de muitos. Tenho um carro velho. Como restos do jantar de ontem, quando trabalho em estúdio, não vou todos os dias ao restaurante, nem pensar.

Nunca tivemos apoios, nunca os pedimos.Arte é independência! Não nos queixamos, trabalhamos.Não fazemos birras, agimos. Nunca contámos com qualquer tipo de benesse ou ajuste directo, nem com homenagens ou facilitismo dos poderosos. Nunca tocámos para partidos e sempre nos mantivemos longe da politica. Este país é o que queremos? Não. O que merecemos? Não. Mas, é o que amamos? Sim. Este Governo é mau? Ė! Houve um melhor outrora? Não me parece. No único ano em que ganhei dinheiro a sério com a música em Portugal (Amália Hoje), a carga fiscal e um erro na Segurança Social retiraram-me por completo qualquer lucro que tenha tido. Irei a tribunal e, esperarei dez anos, talvez, para recuperar o que por lei é meu mas que deixa de valer quando a ordem é cobrar, mas não fugirei do meu posto, nem de reclamar os meus direitos. 
Boa sorte no Brasil, onde os artistas Portugueses são tão mais acarinhados que cá e onde os Portugueses sempre quebraram recordes de vendas e de bilheteiras. O Brasil adora a cultura Portuguesa, daí o sucesso do Portugal artistico nessas terras. Estão a brincar comigo ? Regressei agora de uma tour por toda a América do Norte, da qual muitos artistas Portugueses fugiriam devido à sua dureza. Tocámos para muita gente, tocámos para pouca gente, mas tocámos. Não ganhei um tostão, foi tudo investido.Sim pagámos técnicos, cordas de baixo, taxis, bilhetes de avião, hoteis, tourbus,vistos de trabalho, impostos you name it. Nada disto é dedutivel segundo as nossas leis. Para o ano estamos de volta. E chego a Portugal para ouvir e ler queixas, vitimizações, polémicas, quando na verdade se trata de uma decisão pessoal, livre, sem coação. Mais valia, na minha opinião, terem dedicado todo esse espaço e atenção à nossa tour que foi real, vivida e sofrida sem queixume ou solidariedade do povo ou media. Estou no avião mais zangado com os Portugueses que com Portugal. 

Aliás, não vejo a hora de chegar.
nota: fico com pena dos familiares de Fernando Tordo, especialmente do filho João que conheço, estimo e cujos livros comprei e paguei. Simpatizo e entendo, como ninguém, a ausência. Mas esta é uma realidade de milhares de Portugueses. A minha realidade inclusive, já que não vejo o meu filho Fausto e a minha mulher Sónia há mais de um mês. Quando ele tinha 18 dias fui em tour. Quando ele deu os primeiros passos, estava fora. As primeiras palavras, também. Ninguém é mais que ninguém nas saudades. Ninguém é especial no sofrimento.

A minha solidariedade com João Tordo

por A-24, em 21.02.14
Rui A. in Blasfémias

Quero manifestar a minha compreensão e integral apoio ao que escreveu João Tordo, o filho do cantor Fernando Tordo, na carta que dirigiu ao seu pai, no momento em que ele abandona Portugal, a isso forçado pela pobreza em que se encontra o seu país. Sobretudo revejo-me plenamente naquela parte em que diz que é insuportável viver num local que foi governado “por gente que fez tudo para dar cabo deste país”. Concordo em absoluto. Ainda me lembro do que foi feito em 1975 e nos anos seguintes, para destruir a nossa economia com a nacionalização e consequente destruição de empresas até aí rentáveis e do nosso tecido produtivo. Tenho bem presente a cultura de ódio, que ainda hoje perdura, gerada em certos sectores da nossa sociedade em relação ao “capitalista”, isto é, a quem está disposto a investir o seu tempo, trabalho, esforço e dinheiro na criação de empresas e de emprego. Não me esqueço dos sucessivos governos, que arrebatavam o voto e o entusiasmo da multidão, que nos garantiam soluções milagrosas, que sempre passavam por gastar mais dinheiro dos contribuintes em obras faraónicas e em investimento público, o tal que criaria riqueza garantida e emprego seguro. Como não esqueço, também, os muitos bordéis do regime suportados pelo dinheiro do povo, de que os governos nunca se quiseram livrar para sustentar amigos e apaniguados, justificando-se sempre com o doce pregão de que se tratavam de bens públicos que a iniciativa privada não poderia assegurar. É graças a essa cultura de destruição de riqueza e da iniciativa e da propriedade privada que este país quase deixou de produzir e de ter empresas que garantissem trabalho e recursos para sustentar uma vida de qualidade aos seus cidadãos. Incluindo aqui a cultura, a tal a que sempre se dedicou Fernando Tordo, um bem que as pessoas só podem consumir quando têm assegurada a satisfação de outros mais elementares para a sua existência. E é devido a quase não existirem empresas empregadoras em Portugal que pessoas como Fernando Tordo, e outras como o filho de Fernando Tordo, têm de emigrar. Espero que o João Tordo tenha já compreendido isto.

Carta ao pai

por A-24, em 19.02.14
João Tordo via Público


"Ontem, o meu pai foi-se embora. Não vem e já volta; emigrou para o Recife e deixou este país, onde nasceu e onde viveu durante 65 anos. A sua reforma seria, por cá, de duzentos e poucos euros, mais uma pequena reforma da Sociedade Portuguesa de Autores que tem servido, durante os últimos anos, para pagar o carro onde se deslocava por Lisboa e para os concertos que foi dando pelo país. Nesses concertos teve salas cheias, meio-cheias e, por vezes, quase vazias; fê-lo sempre (era o seu trabalho) com um sorriso nos lábios e boa disposição, ganhando à bilheteira. Ontem, quando me deitei, senti-me triste. E, ao mesmo tempo, senti-me feliz. Triste, porque o mais normal é que os filhos emigrem e não os pais (mas talvez Portugal tenha sido capaz, nos últimos anos, de conseguir baralhar essa tendência). Feliz, porque admiro-lhe a coragem de começar outra vez num país que quase desconhece (e onde quase o desconhecem), partindo animado pelas coisas novas que irá encontrar. Tudo isto são coisas pessoais que não interessam a ninguém, excepto à família do senhor Tordo. Acontece que o meu pai, quer se goste ou não da música que fez, foi uma figura conhecida desde muito novo e, portanto, a sua partida, que ele se limitou a anunciar no Facebook, onde mantinha contacto regular com os amigos e admiradores, acabou por se tornar mediática. E é essa a razão pela qual escrevo: porque, quase sem o querer, li alguns dos comentários à sua partida. Muita gente se despediu com palavras de encorajamento. Outros, contudo, mandaram-no para Cuba. Ou para a Coreia do Norte. Ou disseram que já devia ter emigrado há muito. Que só faz falta quem cá está. Chamam-lhe palavrões dos duros. Associam-no à política, de que se dissociou activamente há décadas (enquanto lá esteve contribuiu, à sua modesta maneira, com outros músicos, escritores, cineastas e artistas, para a libertação de um povo). E perguntaram o que iria fazer: limpar WC's e cozinhas? Usufruir da reforma dourada?
Agarrar um "tacho" proporcionado pelos "amiguinhos"? Houve até um que, com ironia insuspeita, lhe pediu que "deixasse cá a reforma". Os duzentos e tal euros. Eu entendo o desamor. Sempre o entendi; é natural, ainda mais natural quando vivemos como vivemos e onde vivemos e com as dificuldades por que passamos. O que eu não entendo é o ódio. O meu pai, que é uma pessoa cheia de defeitos como todos nós - e como todos os autores destes singelos insultos -, fez aquilo que lhe restava fazer. Quer se queira, quer não, ele faz parte da história da música em Portugal. Sozinho, ou com Ary dos Santos, ou para algumas das vozes mais apreciadas do público de hoje - Carminho, Carlos do Carmo, Marisa, são incontáveis - fez alguns dos temas que irão perdurar enquanto nos for permitido ouvir música. Pouco importa quem é o homem; isso fica reservado para a intimidade de quem o conhece. Eu conheço-o: é um tipo simpático e cheio de humor, que está bem com a vida e que, ontem, partiu com uma mala às costas e uma guitarra na mão, aos 65 anos, cansado deste país onde, mais cedo do que tarde, aqueles que o mandam para Cuba, a Coreia do Norte ou limpar WC's e cozinhas encontrarão, finalmente, a terra prometida: um lugar onde nada restará senão os reality shows da televisão, as telenovelas e a vergonha. 
Os nossos governantes têm-se preparado para anunciar, contentíssimos, que a crise acabou, esquecendo-se de dizer tudo o que acabou com ela. A primeira coisa foi a cultura, que é o património de um país. A segunda foi a felicidade, que está ausente dos rostos de quem anda na rua todos os dias. A terceira foi a esperança. E a quarta foi o meu pai, e outros como ele, que se recusam a ser governados por gente que fez tudo para dar cabo deste país - do país que ele, e milhões de pessoas como ele, cheias de defeitos, quiseram construir: um país melhor para os filhos e para os netos. Fracassaram nesse propósito; enganaram-se ao pensarem que podíamos mudar. Não queremos mudar. Queremos esta miséria, admitimo-la, deixamos passar. E alguns de nós até aí estão para insultar, do conforto dos seus sofás, quem, por não ter trabalho aqui - e precisar de trabalhar para, aos 65 anos, não se transformar num fantasma ou num pedinte - pegou nas malas e numa guitarra e se foi embora. Ontem, ao deitar-me, imaginei-o dentro do avião, sozinho, a sonhar com o futuro; bem-disposto, com um sorriso nos lábios. Eu vou ter muitas saudades dele, mas sou suspeito. Dói-me saber que, ontem, o meu pai se foi embora."

Os portugueses pelo mundo

por A-24, em 21.06.13
Rui rocha in Delito de Opinião

Uma das características mais intrigantes do modo de ser lusitano é a busca incessante de casos de sucesso de compatriotas por esse mundo fora. Não há meio de comunicação social que se preze que não tenha uma referência diára a situações tão extraordinárias como a do padeiro do Marco de Canaveses que saiu de casa aos cinco anos e tem agora, quarenta e quatro anos e três meses decorridos, uma considerável fortuna pessoal em Aracaju, no estado brasileiro de Sergipe. 
É claro que tal sucesso se deve exclusivamente aos 60 meses que o dito passou exposto aos ventos continentais vindos da terra quente transmontana, à proximidade do Douro vinhateiro e, é justo dizê-lo, ao copito de jeropiga que a mãe lhe deu a fazer de mata-bicho e ao par de estaladas diário que o pai lhe propinava para lhe enrijecer o espírito e as carnes. É evidente que os outros 531 meses que passou fora do solo pátrio são um pormenor insignificante. Todos sabemos que é de pequenino que se torce o pepino. E quando, por excepção, passa um dia em que não se destaca um português, logo aparecem mais dois ou três. Se não forem cidadãos portugueses de papel passado, serão sobrinhos de um tio que namorou com a neta de uma portuguesa de Macieira de Rates. Se não for no Panamá, há-de ser mais para lá. Se não for um beirão, pode ser um cão. Quem não sente um calafrio quando houve o ino nacional? Quem não se arrepia quando toma consciência que Obama, esse mesmo, nos momentos em que analisa os registos diários de actividade que o Google lhe envia, tem a seus pés Bo, um cão de água português? Quem não se comove ao imaginá-lo, ao cãopatriota, na nobre tarefa de marcar território pelos cantos da Sala Oval? Nestas coisas, o futebol tem sempre uma palavra a dizer. Veja-se o caso do Chelsea. Para os meios de comunicação social, o Chelsea não é dos sócios, nem do Abramovich, nem dos gasodutos. O Chelsea é de Paulo Ferreira e de Hilário que têm, juntos, mais tempo de banco que o Ricardo Salgado. O Mónaco, por exemplo, não é do Alberto nem da Stephanie. Agora, é o Mónaco de Moutinho. E de Ricardo Carvalho. Que já não vê bola desde que a Nívea deixou de fazer publicidade na praia. E o Traktor é de Toni. Sim, que no Irão mandam os portugueses que lá estão. Significa isto que não há insucessos portugueses na frente internacional? Claro que há. Mas os insucessos são colectivos e as histórias de glória são individuais. Camané Alves de Jesus, algarvio da Foia, emigrou para a Suiça, conquistou nos anos cinquenta a loira Jacqueline Desmarets ao som dos Olhos Castanhos do Francisco José e tem hoje uma rede de lavandarias na região de Grenoble. Em contrapartida, são sempre portugueses não identificados que dormem na estação de Genebra. Jesus ganhou de letra ao Fenerbache, mas foi o Benfica que perdeu com o Chelsea. O que é curioso nisto tudo é que estes portugueses que reluzem nos quatro cantos do mundo e também nos da Sala Oval, eram, antes de emigrarerem, uns sacanas, uns cretinos ou, na melhor das hipóteses, uns borra-botas. Tirando o Ferreira Fernandes, de quem quase toda a gente diz bem, a única hipótese de um português ter sucesso em Portugal é ter feito merda. Veja-se o caso do Futre e da conferência de imprensa dos chineses. Veja-se o caso da Sara Norte. Aliás, a Sara Norte reúne mesmo todas as condições de sucesso. Fez merda e esteve presa no estrangeiro. Veja-se o caso do Jorge Jesus. Repare-se que o Vítor Pereira ganhou o campeonato, mas não serve. Vai para o Al Ahly. 
O Jesus fica e aumentam-lhe o ordenado. Porque fez merda. O outro vai para o Al Ahly e já vem. Mas quando vier, traz a aura de ter ganho a taça das cidades com praças viradas para Meca, coisa que lhe vai tornar o currículo muito mais valioso. E o mesmo se passa com Cláudio Braga. De acordo com o JN, trata-se de um treinador português que faz carreira nos melhores clubes da Holanda. Nada mais, nada menos. Da Holanda, esse país com um campeonato interno verdadeiramente portentoso em que o jogos costumam acabar com resultados que, por cá, só vemos no hóquei em patins. Pois bem, se lermos a notícia, veremos que o homem treina os sub-17 do Utrecht. Uma espécie de Marítimo lá do sítio. Ora, o treinador dos sub-17 do Marítimo cá do sítio nunca merecerá tal destaque. Porquê? Porque está cá e não está na Holanda. A única hipótese de ter reconhecimento é sair. Ou ficar a fazer merda. Ir a Marrocos buscar um carregamento de droga ou beber uns copos antes de uma conferência de imprensa. É por isso que a diáspora portuguesa não é bem isso. É muito mais uma síndroma de internodeficiência congénita que só se cura com várias doses de os portugueses pelo mundo. O Benfica, por exemplo, tem sofrido muito com a doença. Sabendo que os portugueses internamente não têm sucesso a menos que façam merda, constitui a sua equipa à base de brasileiros e de sérvios. Todavia, fica com um treinador português com muito sucesso no país (isto é, que fez merda) e por isso não ganha nada. Quando chega lá fora, faltam-lhe portugueses para ter sucesso (e sabemos como os portugueses são bons a ter sucesso lá fora) e por isso continua sem ganhar. É claro que tal situação está muito mais ligada com o modo de ser português, do que com qualquer maldição do pobre do Bela Guttman que, se bem se recordam, era estrangeiro.



Emigrar para os Emirados Árabes Unidos

por A-24, em 07.05.13
Carlos Guimarães Pinto

Face aos inúmeros pedidos que tenho recebido nos últimos tempos. Fica aqui uma perspectiva sobre os Emiratos Árabes Unidos e as perspectivas de emprego nesse país. Para aqueles que procuram emprego, também se podem juntar ao grupo no Facebook “Go Galt: empregos no Dubai e Médio Oriente”.

Ambiente político e económico: Os EAU não cobram impostos sobre o rendimento, nem contribuições para a segurança social. O único imposto sobre residentes é uma espécie de IMI, com uma fórmula de cálculo complexa mas que custa a quem habita a casa cerca de 3% do valor da renda. As empresas públicas que sustentam o Emirato do Dubai entraram em falência técnica em 2009, mas mesmo aí não foi introduzido qualquer imposto directo que teria resolvido rapidamente o problema de tesouraria do Emirato. Por beneficiar de grandes reservas de petróleo, o Emirato de Abu Dhabi tem uma situação financeira muito estável e nem a crise parou o seu crescimento. O valor da moeda está indexado ao dólar, pelo que qualquer variação no dólar fará alterar o valor em euros.
Ambiente cultural: O Dubai tem um ambiente pluricultural, constituido maioritariamente por estrangeiros um pouco por todo o mundo. Existe uma natural tendência de pessoas com backgrounds culturais semelhantes residirem nas mesmas áreas. A zona da Dubai Marina, incluindo Media City, Internet City e Knowledge Village tende a concentrar os ocidentais. É difícil distinguir esta área de uma qualquer cidade europeia.

Questões legais: todos os emigrantes necessitam de visto que é garantido pela empresa que os contrata. Os portugueses, como cidadãos da União Europeia, têm a vantagem específica de poderem ficar no país durante um mês com visto de turista se desejarem procurar emprego. Alguns aproveitam este benefício para ficarem por mais tempo, bastando para isso conduzir 3 horas até Omã, sair do país e regressar.

Como encontrar emprego:o melhor é sempre contactar empresas da área em que trabalham. Headhunters especializados também podem ser uma excelente ajuda. Anúncios em sites genéricos normalmente procuram pessoas já a residir nos Emiratos Árabes Unidos, mas também podem oferecer oportunidades a pessoas com vontade de sair. Finalmente, a Emirates Airlines é uma das maiores empregadoras de portugueses no Dubai. Entre pilotos e hospedeiras já contam com mais de uma centena de portugueses na empresa. Para além de um salário competitivo, sem impostos, garantem casa em localização central com piscina e ginásio, seguro de saúde e vários dias de folga. Empregam maioritariamente licenciados de qualquer área desde que tenham bom conhecimento de inglês.