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A-24

Um campeonato mais verde... ou estarão as uvas demasiado verdes?

por A-24, em 23.12.13
Passado quase meio campeonato, o Sporting é um dos líderes, isto a uma jornada dos mais directos rivais se defrontarem. A campanha leonina tem sido motivo das mais variadas análises de quem faz, passe o pleonasmo, da análise profissão, e tem motivado diversas conjecturas e discussões filosóficas, ou até metereológicas, nomeadamente por muitos comentadores desportivos que se mostram preocupados com a falta de chuva neste Outono. A última descoberta da temporada é a falta de qualidade do nosso campeonato, que serve de cabal explicação para o facto de uma equipa que terminou o ano passado em sétimo, e partia para este ano como claro outsider, na melhor das hipóteses, ombrear com os maiores orçamentos da Liga. Ou seja, o primeiro lugar do Sporting, segundo várias explicações, é a prova deste fenómeno, pois numa Liga de elevada qualidade e competitividade, os leões jamais teriam argumentos para tal posição. Em relação a esta questão, há dois pontos que parecem indiscutíveis: primeiro, o nosso campeonato É fraco; segundo, é incrível como certas pessoas só o perceberam quando os Williams e Adriens dão cartas em relação às contratações milionárias. 
Quanto à qualidade e competitividade, não há muito a discutir... cada vez há menos equipas competitivas, cada vez há menos emblemas a apresentar futebol de qualidade. Longe vão os tempos em que ir a Faro, Setúbal ou Guimarães eram autênticos suplícios para os candidatos ao título. Fruto da crise, do desinvestimento, seja do que for, o facto é que os clubes de segundo plano não só não conseguem atrair nomes sonantes (Mladenov, Yekini, por exemplo, eram internacionais em selecções de alto nível), como ainda veem sair elementos para grandes potências desportivas, como o Chipre ou a Roménia. Isto para não falar nas questões de salários em atraso, que prejudicam o desempenho dos jogadores, e que invariavelmente aparecem mais mês menos mês. Os jogos são jogados, há muito, a um ritmo deprimente, com alguns intérpretes a fazerem os espectadores questionarem o porquê de não terem seguido uma carreira de futebolista, os árbitros pouco fazem para que os jogos tenham um mais tempo útil e até apreciam que se jogue a passo de caracol, muitos conjuntos pouco mais fazem do que juntarem os seus homens de modo a reduzir o espaço de jogo e apostarem em lances de bola parada, e os treinadores parecem contentes quando as suas equipas perfazem 90 minutos de um jogo "sério", mesmo que durante esse período não tenham feito o guardião adversário sujar os calções. 
O nosso campeonato é muito, muito fraco, joga-se pouco (em compensação, fala-se muito) e mal, e os espectáculos são na maioria tão apelativos quanto o Branca de Neve, versão João César Monteiro. E esta análise, com a qual nem todos concordarão, leva ao segundo ponto... porquê os jornalistas e analistas apenas "hoje" chegaram a tal conclusão? É que este tem sido o caminho seguido pelo nosso futebol (apenas o Braga tem sido uma excepção, elevando a sua qualidade global) desde há alguns anos para cá. O ano passado, Porto e Benfica passearam, um Paços com um futebol rudimentar ficou em terceiro, e o pior Sporting de que há memória ainda conseguiu lutar por um lugar europeu até ao fim, e essa temporada foi apenas o corolário de uma estrada há muito trilhada, com destino à mediocridade. Porém, sempre nos venderam um campeonato de fino recorte, o quinto melhor da Europa, com "grandes" jogos, executantes notáveis e "competentes" equipas, arrumadinhas e bem orientadas, o que contrasta com a actualidade, em que tudo é questionado, da qualidade das equipas e treinadores, às habilitações dos jogadores que entram em campo, até às arbitragens que não defendem o espectáculo. Esta disparidade de opiniões, entre os tempos em que Benfica e Porto discutiam o título sozinhos e a dois, e estes em que o Sporting se intromete com propriedade na luta, só pode significar uma de duas coisas: ou a qualidade da Liga caiu a pique subitamente, ou então as uvas podem mesmo estar demasiado verdes.
via Visão de Mercado

55 cidades concentravam 50% do PIB do Brasil em 2011, diz IBGE

por A-24, em 19.12.13
Seis municípios ainda respondem por 25% de toda riqueza gerada no país.

Participação das capitais cai para 33,7%, a menor fatia desde 1999.

Do G1, em São Paulo

A geração de riqueza no Brasil continua concentrada em poucas cidades. Por outro lado, a participação das capitais no Produto Interno Bruto (PIB) nacional caiu para o menor nível desde 1999, aponta uma pesquisa divulgada nesta terça-feira (17) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).


Segundo o estudo, em 2011, apenas 55 municípios – dos 5.565 existentes no país – concentravam cerca de 50% do PIB brasileiro, sendo que seis deles respondiam, sozinhos, por aproximadamente 25% da economia nacional, concentrando 30,9% da população. Em 2008, o número de municípios responsáveis por metade do PIB brasileiro estava em 51. Em 2010, eram 54.


1.323 cidades detinham, em 2011, 1% do total do PIB

Seis capitais responderam juntas, em 2011, por 24,5% da geração de renda do país: São Paulo (11,5%), Rio de Janeiro (5,1%), Brasília (4%), Curitiba (1,4%), Belo Horizonte (1,3%) e Manaus (1,2%). Em 2010, elas representavam 24,9% do PIB.

Esses seis municípios detêm 13,7% da população brasileira e, segundo o IBGE, são tradicionalmente identificados como concentradores da atividade de serviços, o que inclui intermediação financeira, comércio e administração pública.

Na outra ponta, 1.323 cidades detinham, em 2011, 1% do total do PIB nacional e concentravam 3,3% da população.

Fatia das capitais recua
Em 2011, a participação relativa das capitais na composição do PIB foi a menor da série histórica do IBGE, iniciada em 1999. O conjunto das 27 capitais respondeu, em 2011, por 33,7% da renda nacional, ante uma fatia de 34% em 2010. Em 1999, essa participação era de 38,7%.
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Apenas duas capitais não ocupam o primeiro lugar em seus respectivos estados. Em Santa Catarina, o maior município em 2011 foi Joinville, o mais populoso do estado, seguido por Itajaí e Florianópolis. No Pará, Parauapebas desbancou Belém.

Na comparação de cada capital com o PIB dos estados, Santa Catarina se destaca como o estado mais autônomo, tendo Florianópolis contribuído, em 2011, com apenas 6,8% do PIB estadual, enquanto o Amazonas era o mais dependente, uma vez que Manaus colaborou com mais de 79% para o PIB do estado.

Destaques fora das capitais
Excluindo-se as capitais, 11 municípios tiveram destaque em 2011 por gerar, individualmente, mais de 0,5% do PIB nacional, agregando 8,7% da renda do país. Foram eles: Guarulhos (SP), com 1%; Campinas (SP), 1%; Osasco (SP), 0,9%; Campos dos Goytacazes (RJ), 0,9%; São Bernardo do Campo (SP), 0,9%; Barueri (SP), 0,8%; Santos (SP), 0,8%; Betim (MG), 0,7%; Duque de Caxias (RJ) e São José dos Campos (SP), 0,6% cada; e Jundiaí (SP), 0,5%.
Maior alta no ranking foi da cidade de Belágua (MA), que saltou da
da 4991ª posição para a 3849ª; já a maior queda ficou com Monções (SP), que caiu da 1448ª para a 3377ª posição

Considerando os 5.565 municípios do país, o maior ganho de posição foi obtido por Belágua (MA), que saltou do 4.991º lugar para o 3849º, favorecida pelo aumento na produção do cultivo de mandioca. Também no Maranhão, o município de Godofredo Viana pulou da 4.217ª posição para a 3.089ª, impulsionado pelo incremento na extração de ouro.

Entre as principais perdas de participação, Monções (SP) caiu da 1.448ª para a 3.377ª, devido à queda na atividade de comércio e serviços de manutenção e reparação. Em seguida, aparece Garruchos (RS), onde ocorreu redução significativa do valor exportado de energia elétrica, resultando em queda da 1.501ª para a 2.695ª posição.

PI, PB e TO dominam faixa mais baixa
Na faixa das 1.323 cidades que respondem por 1% do PIB nacional, estavam em 2011, segundo o IBGE, 73,7% dos municípios do Piauí, 62,3% dos municípios da Paraíba, 54% dos municípios do Tocantins e 53,3% dos municípios do Rio Grande do Norte.

A maior concentração de renda é vista nos estados do Amapá e do Amazonas, onde os cinco maiores PIB municipais responderam em 2011, respectivamente, por 87,5% e 86,5% dos PIB estaduais.

Na maioria dos estados das regiões Norte e Nordeste, os cinco maiores PIB municipais concentravam mais do que 50% do PIB estadual. As exceções foram Tocantins e da Bahia, com 46,1% e 42,6%, respectivamente.

O Sudeste não apresentou um padrão específico. Os cinco maiores PIB municipais do Espírito Santo e do Rio de Janeiro concentravam 61,2% e 65%, respectivamente, do PIB de seus estados. Em São Paulo, a maior fatia foi de 47,1%.

Nas regiões Sul e Centro-Oeste do país, essa concentração não alcançava 50%, exceto em Mato Grosso do Sul, que apresentou concentração de 56,8%, e em Goiás, com 50,7%.

No outro extremo, com as menores concentrações, encontravam-se Minas Gerais (33,7%), Rio Grande do Sul (35,5%), Santa Catarina (38,5%) e Mato Grosso (38,9%).

Cidade do ES tem maior PIB per capita
Segundo o IBGE, a cidade de Presidente Kennedy (ES), com uma população de apenas 10.373 habitantes, obteve em 2011 o maior PIB per capita (por habitante) do país (R$ 387.136). Na sequência, aparecem Louveira (SP) e São Gonçalo do Rio Abaixo (MG).

Segundo o IBGE, os municípios com os maiores valores de PIB per capita tinham em comum a baixa densidade demográfica. Presidente Kennedy é um município produtor de petróleo. Já Louveira (SP) concentra centros de distribuição de grandes empresas, e São Gonçalo do Rio Abaixo (MG) tem como principal atividade a extração de minério de ferro.

PIB per capita por região
Em 2011, o PIB brasileiro avançou 2,7%. Em valores correntes, o resultado alcançado foi de R$ 4,143 trilhões. O PIB per capita, em 2011, ficou em R$ 21.535, valor superior à mediana (valor que apareceu com mais frequência em 2011) do Brasil, que era de R$ 10.902,94, indicando uma assimetria na distribuição de renda.

A Região Sul obteve a maior mediana da renda, superior a uma vez e meia à mediana da renda nacional. A Região Nordeste concentrou os menores índices. Lá, 25% dos municípios possuíam PIB per capita superior a R$ 6.297,10 – valor menor que o mínimo encontrado no Sul.

Nos 556 municípios mais pobres do país, o PIB em 2011 foi inferior a R$ 4.519. Entre essas cidades, estavam 52,2% dos municípios do Piauí, 48,8% do Maranhão, 48,3% do Pará, 38,2% de Alagoas e 31,9% da Bahia.

Destaques na indústria e agricultura
O preço do barril de petróleo levou Campos de Goytacazes (RJ) a ultrapassar a cidade do Rio de Janeiro na participação do valor adicionado bruto da indústria em 2011, com uma fatia de 2,9%. O Rio, que estava na segunda colocação em 2010, caiu para a terceira, com 2,4%. São Paulo permanece como o principal polo industrial brasileiro, com participação relativa de 7,9% no valor adicionado bruto da indústria no PIB nacional.

Na agropecuária, a cidade de São Desidério (BA) passou do terceiro para o primeiro lugar na participação do valor adicionado bruto (fatia de 0,4% do setor). O município foi o maior produtor de algodão herbáceo do país em 2011, responsável por 14% da fabricação nacional.

Em segundo lugar, ficou Sorriso (MT), o maior produtor nacional de soja e o segundo maior de milho do país, seguido por Rio Verde (GO), que tem vários destaques ligados a agroindústrias do ramo alimentício, além de plantações de soja, milho e sorgo (milho-zaburro), e criações de aves, suínos e bovinos.

No setor de serviços, três capitais concentraram em 2011 24,7% do valor adicionado bruto do setor: São Paulo (13,1%), Rio de Janeiro (5,9%) e Brasília (5,7%).



PARTICIPAÇÃO DOS MUNICÍPIOS NO PIB NACIONAL
Confira os 10 maiores PIBs do país em 2011
(em R$ mil, por cidade) 

São Paulo           477.005.597
Rio de Janeiro    209.366.429
Brasília                164.482.129
Curitiba                58.082.416
Belo Horizonte     54.996.326
Manaus                51.025.146
Porto Alegre        45.506.017
Guarulhos (SP)   43.476.753
Fortaleza              42.010.111
Campinas (SP)    40.525.214
10 menores PIBs do país
(em R$ mil, por cidade)

Miguel Leão (PI)                                9.741
São Félix do Tocantins (TO)             9.984
São Miguel da Baixa Grande (PI)    10.268
Anhanguera (GO)                             10.436
Viçosa (RN)                                      10.452
Parari  (PB)                                       10.482
Quixabá (PB)                                    10.506
Areia de Baraúnas (PB)                   10.640
Santo Antônio dos Milagres (PI)      10.890
Amparo (PB)                                     10.929
10 maiores PIBs per capita do país
(em R$)

Presidente Kennedy (ES)                 387.136,99                     
Louveira (SP)                                    287.646,17                     
São Gonçalo do Rio Abaixo (MG)   283.298,20                  
Confins (MG)                                     256.466,16             
Triunfo (RS)                                       227.536,90                  
Porto Real (RJ)                                 217.465,66               
Quissamã (RJ)                                 193.740,96              
São João da Barra (RJ)                   179.908,25               
Anchieta (ES)                                   178.056,02               
Araporã (MG)                                   167.349,26               
10 menores PIBs per capita
(em R$)

Curralinho (PA)                              2.462,15                                            
Bagre (PA)                                     2.505,10                                 
São Vicente Ferrer (MA)               2.679,66                                 
Cachoeira do Piriá (PA)                2.720,82                             
São Bento (MA)                             2.876,77                            
Muaná (PA)                                    2.905,81                                
Santo Amaro do Maranhão (MA)  2.969,33                      
Cururupu (MA)                               3.020,23                              
Anajás (PA)                                    3.039,09                              
Novo Triunfo (BA)                           3.047,73             
Ranking das capitais por PIB per capita
(em R$)
1º Vitória/ES                  85.794,33
2º Brasília/DF                63.020,02
3º São Paulo/SP           42.152,76
4º Rio de Janeiro/RJ     32.940,23
5º Curitiba/PR                32.916,44
6º Porto Alegre/RS        32.203,11
7º Manaus/AM               27.845,71
8º Florianópolis/SC        26.749,29
9º Belo Horizonte/MG    23.053,07
10º Cuiabá/MT               22.301,79
11º Porto Velho/RO        21.784,76
12º Recife/PE                 21.434,88
13º Goiânia/GO             20.990,21
14º São Luís/MA            20.242,74
15º Campo Grande/MS 19.745,42
16º Boa Vista/RR            17.552,65
17º Fortaleza/CE            16.962,89
18º Aracaju/SE               15.913,40
19º Palmas/TO               15.878,91
20º Natal/RN                  15.129,28
21º Maceió/AL                14.572,42
22º Salvador/BA             14.411,73
23º Belém/PA                 14.027,06
24º Teresina/PI               13.866,75
25º Macapá/AP              13.821,85
26º João Pessoa/PB      13.786,44
27º Rio Branco/AC         13.120,16 

O país onde a violação de uma mulher é higiene pública

por A-24, em 18.12.13
Henrique Raposo

É por estas e por outras que o relativismo tem pernas curtas. Em dezembro de 2012, uma jovem de 23 anos foi violada num autocarro de Nova Deli por um grupo de indivíduos, mas grande parte da sociedade culpou a vítima e não os agressores. Um dos gurus barbudos do hinduísmo, Asaram Bapu, afirmou que a vítima procedera mal ao ter resistido às investidas. Então, não queres um gang-rape, ó beleza? Segundo Bapu, ela devia ter implorado por misericórdia através da invocação do termo 'bhaya' (qualquer coisa como 'mano'). Dessa forma, garante Bapu, os violadores tê-la-iam deixado em paz. Ó galdéria, se me tratares por 'irmão', nós deixamos o nosso plano de violação e vamos à nossa vida como se nada fosse, está bem? A rapariga morreu duas semanas depois no hospital.

Felizmente, as mulheres indianas não aceitam a tese do "isto é a cultura deles". A violência do caso furou pela primeira vez o véu da negação ou da indiferença em relação a este problema endémico. Surgiu na sociedade indiana uma onda de manifestações nunca antes vista contra a normalidade das violações, contra o machismo dos costumes e das leis. Ainda antes do julgamento dos violadores, o quadro legal foi alterado. O estupro deixou a brandura jurídica e entrou no terreno mortal: 20 anos de pena mínima, pena de morte para os casos que provoquem a morte ou o estado vegetativo da vítima. Em setembro, no julgamento mais famoso da história indiana, o tribunal condenou à morte quatro dos agressores. Em paralelo, o número de denúncias aumentou. O caso do autocarro quebrou mesmo a capa da vergonha de muitas mulheres. Em 2012, a polícia de Nova Deli registou 706 denúncias de estupro; entre janeiro e outubro de 2013, o número já estava em 1330. Idem para os casos de abuso sexual: 727 em 2012, 2844 entre janeiro e outubro deste ano.

Mas será que este novo quadro legal resolve o problema? Não. Como dizem os grupos de mulheres indianas, o problema é cultural, está integrado na cultura masculina do país, uma cultura que diz "a culpa é dela" porque tinha um decote às 10 da noite, "estava mesmo a pedi-las". Boa parte da rapaziada indiana não vê a violação colectiva de uma rapariga como um crime ou como um acto imoral, mas sim como uma celebração da masculinidade e, acima de tudo, como uma punição da emancipação feminina. Ó beleza, então andas sozinha por aí, a trabalhar e a ir ao cinema? Ele, o violador, não se sente culpado, é apenas um membro da equipa dos bons costumes; ainda por cima, a culpa fica convenientemente diluída no colectivo do gang-rape. A coragem colectiva é sempre uma tapeçaria de cobardias individuais, não é verdade? E, por falar em cobardia, convém registar que o tal guru foi preso em novembro. A polícia diz que Asaram Bapu violou uma rapariga de 16 anos num comício religioso. Saliente-se que este homem é famoso devido à defesa de uma "vida pia" e afastada dos "prazeres carnais".

O peixe, os velhos e o pau

por A-24, em 18.12.13
Carlos Guimarães Pinto

Era uma vez uma ilha em que os habitantes sobreviviam de pesca artesanal. Os habitantes passavam o dia a pescar à mão e a usufruir dos frutos desse trabalho. Aquilo que pescavam diariamente chegava para satisfazer as necessidades da sua dieta. Os anos foram passando e os habitantes continuavam na sua rotina habitual até que um dia um deles se apercebeu que estava a envelhecer e que daí a uns anos será incapaz de pescar tanto como pesca hoje. Decidiu reunir todos os habitantes e apresentar-lhes o problema. Após pensar por um minuto, um dos habitantes sugeriu uma solução: solidariedade inter-geracional. A sua proposta era que, à medida que os habitantes fossem chegando à idade em que já não conseguiam pescar, os habitantes mais novos abdicassem de parte do seu peixe para alimentar os mais velhos. Mais tarde, quando esses também envelhecessem fariam o mesmo com as novas gerações e por aí fora. Como existiria sempre uma nova geração, haveria sempre peixe para distribuir. Parecia uma boa ideia Nessa altura surgiu a pergunta: “Mas então, como garantimos que os mais novos contribuem para alimentar os mais velhos?”. A solução encontrada foi a de construir um enorme pau que ficaria nas mão de um habitante eleito pelos restantes. Se um dos mais novos não quisesse contribuir, levava uma paulada. Parece justo, pensaram. A solução funcionou durante bastante tempo: a população da ilha era jovem e os poucos que foram envelhecendo tiravam muito pouco dos mais jovens. Os mais jovens, não tendo que contribuir muito, e na expectativa de virem a beneficiar do sistema quando fossem mais velhos, não se importavam de contribuir. Porém, com o passar do tempo, passou a haver cada vez mais velhos, o que exigiu uma contribuição cada vez maior dos habitantes mais novos. A certa altura, a contribuição passou a ser tão alta que os mais jovens deixaram de ter peixe suficiente para se alimentar. Alguns tentaram deixar de contribuir, mas levaram com o pau. Depois de algumas pauladas, outros decidiram fugir da ilha, deixando o esforço ser distribuido por ainda menos trabalhadores, aumentando a fome e a paulada, fazendo com que mais fugissem da ilha.

Esses habitantes fugiam para uma ilha vizinha. Essa ilha vizinha tinha passado exactamente pelo mesmo problema inicial: os habitantes aperceberam-se que estavam a envelhecer e que em breve alguns deles deixariam de ter forças para pescar o suficiente para se alimentarem. Seguiram porém uma solução diferente. Em vez de assumirem que os mais novos iriam abdicar de peixe no futuro para alimentar os mais velhos, começaram logo a abdicar de peixe no presente. Deixaram de passar o dia todo a pescar, passando algumas horas do dia a construir redes de pesca. No curto prazo teriam menos peixe disponível por passarem menos tempo a pescar, mas no longo prazo conseguiriam pescar mais com as redes que fossem construindo. À medida que fossem envelhecendo, os pescadores perdiam a capacidade de pescar à mão, mas como tinham cosnstruído redes, conseguiam pescar o mesmo ou até mais. Quando chegassem a uma idade avançada em que não tivessem mais forças para pescar alugariam as suas redes aos mais jovens, com mais força, mas que ainda não tinham tido tempo para construir redes. Esses mais jovens beneficiavam do facto de poderem pescar mais recorrendo às redes dos mais velhos, e partilhavam esse benefício, dando parte do excedente aos mais velhos. Quando colocados perante a possibilidade dos mais jovens simplesmente roubarem as redes e não darem nenhum peixe aos mais velhos, decidiram também eles criar um enorme pau que ficaria nas mão de um do habitante eleito, mas cuja função seria simplesmente garantir que o roubo não ocorresse. Tal como na primeira ilha, também esta passou por fases de declínio demográfico em que a população mais velha ultrapassava em número a mais nova. Mas ao contrário da primeira ilha, esta situação não provocou fome: mais velhos significava também um maior stock de redes, o que tornava os trabalhadores novos mais produtivos. Quando existia um baby boom, e a população mais nova crescia, cada um dos trablhadores tinha acesso a menos redes, mas como também havia mais trabalhadores, os mais velhos continuavam a ter acesso a alimentação. Em suma, nesta ilha tinham construido um sistema resitente a variações demográficas. Nesta ilha produzia-se também bastante mais peixe do que na ilha vizinha, graças ao stock de redes existente. E o pau era também usado menos vezes.

(história baseada no livro “How an economy grows and why it crashes”, de Peter Schiff, que recomendo vivamente, e de onde também retirei a ilustração.)

A Rússia conseguiu comprar Ianukovitch?

por A-24, em 18.12.13
Vladimir Putin, Presidente da Rússia, fez uma oferta ao seu homólogo ucraniano, Victor Ianukovitch, que este não recusou.
Segundo foi anunciado, o Kremlin retira 15 mil milhões de dólares do Fundo de Bem-Estar da Rússia para comprar títulos do tesouro russo.
Além disso, o preço do gás russo à Ucrânia vai sofrer uma redução brusca de 400 para 268,5 dólares por metro quadrado. Se Kiev se portar bem, Moscovo prometer rever novamente os preços do gás.
Foi também assinado um acordo que reanima a produção de aviões de transporte Antonov e de motores para aviões.
Para que semelhante “bondade” não parecesse traição da parte de Ianukovitch, Putin sublinhou que “não discutimos a questão da adesão da Rússia à União Aduaneira”.
Deste modo, Putin e Ianukovitch tentam ganhar as graças e o apoio de muitos ucranianos que irão receber, depois do ano novo, gás em casa mais barato.
“Estas soluções para a população da Ucrânia são muito importantes, o que, a certa altura, a histeria anti-russa utilizou muito, isso é um sério banho. A aproximação de relações com a Rússia é simplesmente uma prenda do Pai Natal à Ucrânia”, declarou Vadim Kolesnitchenko, deputado do Partido das Regiões, que apoia Ianukovitch.
Porém, agora, a oposição pró-UE quer agora saber o que é o Presidente Ianukovitch ofereceu em troca, porque, como dizem os vários povos, “queijo grátis só na ratoeira”. Como se irá justificar Ianukovitch quando chegar a Kiev?
A oposição certamente não irá gostar das explicações e o mais importante será ver se a ela continuará a ter o mesmo poder de mobilização dos seus apoiantes. Se assim for, o que fará Ianukovitch? Recorrer à força para “limpar” o centro de Kiev?
Isto porque, entre a oposição, o principal já não são problemas como a libertação de Iúlia Timochenko, nem a aproximação ou não à UE, mas a continuação ou não de Ianukovitch no cargo de Presidente da Ucrânia.
Vladimir Klitchko, antigo campeão do mundo de boxe e um dos mais destacados dirigentes da oposição, desafiou Ianukovitch para o ringue.
“Só há uma saída para o país: eleições antecipadas. Ianukovitch disse na mesa redonda que não receia eleições antecipadas. Desafio Ianukovitch, ele é meu adversário pessoal e eu desafio-o para o ringue”, declarou Klitchko após saber o resultados das conversações russo-ucranianas.

E, nesta situação, como irá responder a UE para salvar a face.

"Inundamos o mundo inteiro com frases insignificantes"

por A-24, em 16.12.13
"Essas «redes sociais» de «sociais» só têm o nome. Não oferecem mais do que um simulacro de sociabilidade. Com o Facebook estabelecemos ligações com «amigos» que nunca vimos, visitamos países onde nunca iremos pôr os pés. Conversamos, desabafamos, inundamos o mundo inteiro com frases insignificantes. Isto é, colocamos a técnica ao serviço do narcisismo mais imaturo. A quebra das ligações sociais é o fruto da solidão, do anonimato em massa, do desaparecimento das relações sociais orgânicas. A verdadeira sociabilidade exige experiência directa, que o mundo dos ecrãs tende a abolir. A única utilidade do Facebook é colocar à disposição da polícia cada vez mais informação sobre nós mesmos, a um nível que nunca nenhum regime totalitário pôde sequer imaginar. Os ingénuos contribuem eles próprios para reforçar os procedimentos de controlo dos quais por vezes se queixam."

Alain de Benoist


Como a esquerda se entretém

por A-24, em 16.12.13
Vasco Pulido Valente via Dissidente


"A esquerda portuguesa é de facto extraordinária. Quando se provou que os partidos da esquerda se tinham metido num beco sem saída, a primeira ideia que veio à cabecinha das notabilidades da seita foi fabricar mais partidos, sempre à procura da mítica “unidade”, que por toda a parte desapareceu logo na sua auspiciosa criação. Excepto sob a autoridade da URSS, primeiro em Moscovo e a seguir no Comintern e no Cominform, a história do socialismo nunca passou de uma série de querelas, de cisões, de purgas, de assassinatos cometidos com suma piedade e zelo. Mas, pelos vistos, continua em Portugal, no ano de 2013, a mesma ambição de juntar os “verdadeiros” camaradas numa casa comum que domine a política nacional e acabe de uma vez com as terríveis desordens do capitalismo.

O Bloco de Esquerda, hoje defunto, começou com essas fantasias. Claro que o BE não tinha nada de esquerda: nem “massas” que o seguissem, nem um programa para a reforma do país, nem sequer uma estratégia: tinha só as famosíssimas “rupturas”. Mas protegido por alguns génios, que pretendiam enfraquecer o PC, teve até certa altura muito tempo de televisão. E apareceram de repente Miguel Portas, Francisco Louçã, Ana Drago e outros, com um arzinho de universitários sabichões, que atraíram em pouco tempo uma pequena parte da populaça. Eles diziam que eram “modernos” e a populaça julgava que a “modernidade” a esperava. Este equívoco durou quase 20 anos, enquanto a impotência do Bloco se não tornou evidente e Sócrates não se apropriou das “rupturas”. Sob vários pretextos, muitos ratos fugiram imediatamente do barco e ainda não deixaram de fugir.
Com o PC feliz no seu velho ghetto e o PS numa perpétua trapalhada, um antigo BE resolveu arranjar um “partido”, deliberadamente sem doutrina e disciplina, em que as prima-donas da esquerda pudessem falar à sua vontade e ser ouvidas, sem perturbação, por meia dúzia de gatos-pingados. Nada sairá deste concurso de asneiras, mas não interessa. A patetice pública alivia a alma. E estávamos nisto, quando Manuel Carvalho da Silva, agora munido de um doutoramento, tomou a estranha decisão de inaugurar um “movimento”, com o objectivo (adivinhem) de finalmente promover a “unidade” da esquerda. O “movimento” recebe quem lhe bater à porta: católicos, o BE, o “Partido Livre” e mesmo uns tantos comunistas na disponibilidade. É uma sopa turva de que inevitavelmente vai saltar uma dezena mais de partidos com a pedra filosofal no bolso. Deus nos dê muita paciência."

Folclore europeu não é suficiente para ganhar a Ucrânia

por A-24, em 16.12.13
José Milhazes

Qualquer pessoa que conheça um pouco da realidade política ucraniana sabe que o Presidente Ianukovitch não é “pera doce”, nem “flor que se cheire”.

Porém, quer se goste ou não, Victor Ianukovitch venceu a sua mais directa adversária, Iúlia Timochenko, em eleições consideradas livres e democráticas pela comunidade internacional. Dessa vez, tanto a Rússia, como a União Europeia e os Estados Unidos aceitaram o resultado do escrutínio.
Sendo assim, Ianukovitch é representante da maioria do povo ucraniano e assim o será até às próximas eleições. Até lá, tanto a União Europeia como a Rússia têm a ver com ele enquanto dirigente do segundo maior país europeu depois da própria Rússia.
Claro que, em relação à União Europeia, Victor Ianukovitch faltou à palavra quando se recusou a assinar o Acordo de Associação a poucos dias de isso se realizar. Porém, Bruxelas também sabia e sabe com quem está a tratar e via que a pressão de Moscovo sobre Kiev estava a aumentar muito fortemente. Era claro que o Kremlin estava disposto a ir muito longe na tentativa de não perder a Ucrânia para a União Europeia.
Ianukovitch teve que optar pela forma que menos ameaçasse o seu poder e o poder daqueles grupos oligárquicos que o mantêm no poder. Como sabe que é perigoso brincar com o Kremlin, optou por brincar com a União Europeia.
A oposição pró-europeia organizou gigantescas marchas de protesto contra a política de Ianukovitch, tendo a polícia de choque Berkut intervindo de uma maneira claramente exagerada e violenta.
Levantaram-se barricadas, montaram-se tendas no centro de Kiev que passou a ser também um centro de peregrinação para ministros e deputados dos mais diversos países da União Europeia. A eles juntaram-se os “missionários” que querem levar a sua democracia a toda a parte e de qualquer forma.
Em 2004, durante a chamada revolução laranja, vi alguns desses “missionários” no terreno e não me impressionaram, pelo contrário, preocupavam-se mais em encontrar prostitutas e beber vodka do que no andamento dos acontecimentos. Alguns até foram levados para as esquadras, onde eram despojados de dinheiro e documentos pela polícia. Claro que não podiam protestar contra a arbitrariedade policial, pois tinham sido encontrados em situações menos próprias.
Eu não sei se cenas dessas seriam possíveis em Estados de direito. Bem, e se fosse Putin que aparecesse a visitar os manifestantes pró-russos em Kiev, então aí cairiam a Lavra de Kiev e o Mosteiro de São Nicolau, pois na capital ucraniana não existem Carmo e Trindade.
Isto para dizer que folclore desse tipo não resolveu nada em 2004. Os políticos pró-ocidentais chegaram ao poder na terceira volta das eleições presidenciais, mas rapidamente desiludiram os seus eleitores. A promessa europeia não foi cumprida e a União Europeia também não fez muito para que isso acontecesse. Protestou durante as “guerras do gás” entre a Rússia e Ucrânia, mas resolveu o problema de forma muito cómoda para Moscovo: empresas da UE participaram na construção do gasoduto “Corrente do Norte”, que faz com que o gás russo chegue à Europa sem “ter chatices na Ucrânia”.
Nem se vai resolver agora a favor da UE porque esta não tem propostas realistas a fazer. O corrupto e cleptomaníaco Victor Ianukovitch (a propósito, durante o seu mandato, os seus filhos tornaram-se das pessoas mais ricas da Ucrânia) comporta-se como sabe, ou seja, como uma prostituta ainda pretendida por vários homens (neste caso, país ou união de países), e anuncia que a “aproximação à UE” custa 20 mil milhões de euros por ano. Bruxelas recusa a entrar nessa via e, como se costuma dizer, quem não tem dinheiro, não tem vícios.
Neste campo, a UE podia aprender alguma coisa com Putin, que trata Ianukovitch da forma que merece, ou seja, queres dinheiro, venham as contrapartidas. Ou melhor, o dirigente russo aprendeu bem o famoso romance soviético “As doses cadeiras”, onde uma das personagens diz: “primeiro trazes o dinheiro e depois levas as cadeiras”.
Entretanto, a crise continua e é cada vez mais difícil prever como vai terminar. Mas a UE já pode tirar duas conclusões: primeiro deve pensar bem e depois fazer e, segundo, tem de pôr ordem em casa para se tornar mais atrativa. Por enquanto, os 28 inquilinos têm a casa num pandemónio, o que não a torna muito atraente.

P.S. Uma boa saída para esta crise poderia ser a realização de um referendo sobre as relações entre a Ucrânia e a UE, mas ninguém quer arriscar, pois a vitória é uma grande incógnita.

Um homem pode mudar o curso da História? Pode

por A-24, em 13.12.13
Teresa de Sousa

«Talvez também porque a Europa ainda arrasta consigo “o fardo do homem branco”, nenhum líder europeu teve direito a discursar. Hoje a Europa, com todo o seu poder económico, vê a sua influência posta em causa pela China e pelo Brasil. Virada para dentro, vergada por uma crise que ninguém, fora das suas fronteiras, consegue compreender, não consegue ver a oportunidade de comprometer-se com esse mundo novo que encontrou o seu herói num homem que nasceu em África e que aprendeu o valor da dignidade, da liberdade e da democracia numa cela onde passou 27 anos.»

Ninguém respeita este país

por A-24, em 13.12.13
João Vaz

Setenta e cinco sírios vão para a Turquia. Daí seguem para Marrocos, de onde saem para a Guiné-Bissau (onde está a famosa solidariedade árabe?). Agora estão em Portugal e vão pedir o estatuto de refugiados. Foram enfiados á força num avião da TAP, sob ameaça das autoridades guineenses. É assim, este país. Já nem os guineenses nos respeitam. Num estado a sério, a esta hora já se tinham pegado em 75 guineenses ilegais (já para não falar em 750) e recambiado para África. Mas como isto é uma anedota, o máximo que se fez foi suspender o próximo vôo da TAP para Bissau, até estarem reunidas condições de segurança. Certo. Deportassem para lá umas boas dezenas de ilegais africanos e podia ser que nos começassem a respeitar. Assim, obviamente, Portugal continua a ser alvo de chacota internacional a quem até um estado-falhado consegue impor situações de facto.